Quando a saudade me aperta
O coração que suspira,
Confio as mágoas à lira,
Boa amiga da hora incerta.
Com os olhos em névoa imersos,
Na tristeza que me invade,
Eu não domino a vontade
De tudo exprimir em versos.
E a estrofe que em meu recanto
Componho ao sol que declina,
É uma concha onde em surdina
Se ouve um murmúrio de pranto...
Ouro não tendo nem gemas
Para depor no teu colo,
Da pobreza eu me consolo
Dando-te poemas e poemas.
E na ânsia que me consome
De bordar uma obra-prima,
Na estrela d’Alva da rima
Faço brilhar o teu nome.
Com versos – apenas quatro –
Preparo a flórea moldura
Em que esplende a fronte pura
Que mais que tudo idolatro.
A vida é bela, mas triste;
Flores e espinhos reparte.
É só no refúgio da Arte
Que um pouco de azul existe.
Gustavo Teixeira
Em: “Colar de Rimas”
TEIXEIRA, Gustavo. Refúgio da arte. In: __________. Poesias completas. Prefácio de Cassiano Ricardo. São Paulo, SP: Anhambi, 1959. p. 396-397.
Em: “Colar de Rimas”
TEIXEIRA, Gustavo. Refúgio da arte. In: __________. Poesias completas. Prefácio de Cassiano Ricardo. São Paulo, SP: Anhambi, 1959. p. 396-397.
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