Soneto V - Nós


















Vem, partamos, que o mundo nos espera! 
Não te assombrem as noites sem luares, 
nem estranhes as pedras que pisares, 
nem te engane a miragem da quimera. 

Muito espinho hás de ver que dilacera 
a própria flor com que brotou. Não pares: 
verás, no estio, névoa pelos ares 
e morrerem jardins, na primavera. 

Mas que importa? Sou moço, és bela e temos 
um bem que nós somente conhecemos 
e que a vida não dá porque o não tem. 

Vamos com nosso amor, vamos agora, 
de olhos fechados, pela vida afora, 
de braços dados, pelo mundo além! 


Guilherme de Almeida 
Da obra original “Nós” (1914-1917). Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 25.

Nenhum comentário:

O Tempo seca o Amor

O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a ...

Nos últimos 30 dias.