Soneto VII

















Morre o dia. Do quadro da vidraça, 
nós contemplamos silenciosamente 
o adeus do sol à terra, à luz escassa, 
à meia-luz da tarde confidente. 

São como um par de noivos que se abraça; 
— esse roxo dorido do sol poente 
tem a tristeza voluptuosa e ardente 
de um longo abraço que se desenlaça. 

Uma ânsia de viver me abala os músculos; 
dão-me os teus olhos a impressão furtiva 
de dois grandes, tristíssimos crepúsculos. 

E, como a orquestração de um mau desejo, 
quebra o sono da tarde pensativa 
o gorjeio frenético de um beijo. 


Guilherme de Almeida 
Da obra original “Nós” (1914-1917). Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 27.

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