canoas, barcos, embarcações
é o que somos
seguindo no fio líquido e corrente da vida
carregando pessoas
sonhos
cargas de alegrias
de tristezas
e cartas grafadas na lírica da existência

seguimos...
ora - olhando o sumidouro do horizonte na tentativa de ver a corrente futura
ora - olhando tempo às avessas na corrente passada

procuramos - no sempre do tudo - o manso das águas
o plácido remanso das praias e das enseadas
aceitamos o desafio da fúria de marés para beber o medo e o espanto no corpo vivo de temporais

provamos do doce das águas correntes
e provamos do sal na vítrea dança das águas onduladas..

no mar da história
vivemos de partidas e chegadas
ancorando em afetos
em saudades
distantes cais

até que..
na corrente de um repente
nos sentimos emborcados sobre a areia
derramando o lastro de soçobros e
ais

ancorados no avesso de nós


Wanda Monteiro

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