BENTEVÍ que estás cantando
nos ramos da madrugada,
por muito que tenhas visto,
juro que não viste nada.
Não viste as ondas que vinham
tão desmanchadas na areia,
quási vida, quási morte,
quási corpo de sereia…
E as nuvens que vão andando
com marcha e atitude de homem,
com a mesma atitude e marcha
tanto chegam como somem.
Não viste as letras, que apostam
formar idéias com o vento…
E as mãos da noite quebrando
os talos do pensamento.
Passarinho, tolo, tolo,
de olhinhos arregalados…
Benteví, que nunca viste
como os meus olhos fechados…
nos ramos da madrugada,
por muito que tenhas visto,
juro que não viste nada.
Não viste as ondas que vinham
tão desmanchadas na areia,
quási vida, quási morte,
quási corpo de sereia…
E as nuvens que vão andando
com marcha e atitude de homem,
com a mesma atitude e marcha
tanto chegam como somem.
Não viste as letras, que apostam
formar idéias com o vento…
E as mãos da noite quebrando
os talos do pensamento.
Passarinho, tolo, tolo,
de olhinhos arregalados…
Benteví, que nunca viste
como os meus olhos fechados…
Cecília Meireles, no livro “Viagem”. 1939.
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