Soneto VIII















Lês um romance. Eu te contemplo. Ondeia, 
lá fora, um vento muito leve e brando; 
cheira a jasmins o varandim, brilhando 
ao doentio clarão da lua cheia. 

Vais lendo. E, enquanto tua mão folheia 
o livro, eu vejo que, de quando em quando, 
estremecendo, sacudindo, arfando, 
teu corpo todo num delírio anseia. 

Lês. São cenas de amor: — o encontro, o ciúme, 
idílios, beijos ao luar… Perfume 
que sobe da alma, e gira, e se desfaz… 

Vais lendo. E tu não sabes que, sozinho, 
eu te sigo, eu te sinto, eu te adivinho, 
lendo em teus olhos o que lendo estás. 


Guilherme de Almeida
Da obra original “Nós” (1914-1917). Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 28.

Nenhum comentário:

O Tempo seca o Amor

O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a ...

Nos últimos 30 dias.