Passei mal,
Não pelo voo irrequieto das moscas
ao redor do asco
da sinfonia do lixo,
mas pelo fato do lixo ser banquete
de pais, cachorros e crianças.
Mortos vivos de si mesmos,
esqueceram seus nomes,
esqueceram seus passaportes brasileiros.
Os desgraçados nunca viajaram
para além de uma torpe agonia de baques,
povoada de torpes embates.
Não jogam futebol e são chamados de craques.
Em cada fresta de osso
Em cada marca
Eu vejo a fome que se cala.
Aparências esquálidas
sustentam as olímpicas quimeras
dos hiatos das desigualdades
confirmadas
pela história
pela língua
pelo fogo de chumbo
das armas oficiais.
Acendi o cigarro imaginário
que me faz companhia.
Andei pelas vielas exauridas
de pão, sonho e poesia.
Só há excesso de cinza e sofrimento.
Chorei. Segui em frente.
Minha omissão é violência.
Gritei o berro da certeza
que sem luta
a vida segue muda
e o mundo não muda.
Passei mal pela miséria, decerto
porque o miserável refugo humano
A matéria deste meu triste canto
ficou fora do alfabeto.
Paula Beatriz Albuquerque - (Inspirado em O Bicho, de Manuel Bandeira)
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