Almas – da natureza a execrada exceção –
Em que o Sonho ateou seu nefasto clarão,
Vós que, presas à terra, a asa do pensamento
Sentis sempre a voar, em livre movimento,
Para o distante azul dos mundos ideais,
Onde o bem que buscais não existiu jamais;
Vós que abris, procurando o mistério das coisas,
Ou do futuro os véus, ou do passado as lousas,
Vendo bem quanto é vão o que hoje se ergue, e só
Se ergueu para amanhã se desfazer em pó;
Vós, a quem acenou a dolosa esperança
Co’a ventura que atrai e que nunca se alcança,
E que, em sede, ao roçar pela fonte do amor
O lábio, a água sorveis do pântano da dor;
Vós todas pela terra arrastastes os dias,
Deixando após, no chão, um rastro de agonias,
E fazendo vibrar, no espaço, em torno a nós,
A vossa revoltada ou suplicante voz,
Que ora em murmúrios geme, ora em blasfêmias grita
Da vida que heis vivido a miséria infinita!
Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.
Em que o Sonho ateou seu nefasto clarão,
Vós que, presas à terra, a asa do pensamento
Sentis sempre a voar, em livre movimento,
Para o distante azul dos mundos ideais,
Onde o bem que buscais não existiu jamais;
Vós que abris, procurando o mistério das coisas,
Ou do futuro os véus, ou do passado as lousas,
Vendo bem quanto é vão o que hoje se ergue, e só
Se ergueu para amanhã se desfazer em pó;
Vós, a quem acenou a dolosa esperança
Co’a ventura que atrai e que nunca se alcança,
E que, em sede, ao roçar pela fonte do amor
O lábio, a água sorveis do pântano da dor;
Vós todas pela terra arrastastes os dias,
Deixando após, no chão, um rastro de agonias,
E fazendo vibrar, no espaço, em torno a nós,
A vossa revoltada ou suplicante voz,
Que ora em murmúrios geme, ora em blasfêmias grita
Da vida que heis vivido a miséria infinita!
Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.
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