A concha


Talvez não precises de mim,
Noite; da mundial voragem
Tal como a concha sem pérolas,
A tua margem fui lançado.

Tu espumas as ondas com indiferença
E cantas com teimosia,
Mas terás apreço, amarás
Da concha a inútil mentira.

Ao seu lado deitarás na areia,
Com sua casula te vestirás,
Um indestrutível e grande sino
Com ela na marola erguerás.

E as paredes da frágil concha,
Como a casa de vazio coração
Encherás com os sussurros da espuma,
Com a chuva, o vento e a bruma...


1911


Em Russo:

Раковина

Быть может, я тебе не нужен,
Ночь; из пучины мировой,
Как раковина без жемчужин,
Я выброшен на берег твой.

Ты равнодушно волны пенишь
И несговорчиво поешь;
Но ты полюбишь, ты оценишь
Ненужной раковины ложь.

Ты на песок с ней рядом ляжешь,
Оденешь ризою своей,
Ты неразрывно с нею свяжешь
Огромный колокол зыбей;

И хрупкой раковины стены,
Как нежилого сердца дом,
Наполнишь шепотами пены,
Туманом, ветром и дождем...


1911



dEsEnrEdoS, ano II, número 04, Teresina – Piauí, janeiro fevereiro março 2010, p. 4.
Осип Мандельштам – Ossip Mandelstam – Tradução: Francisco Araújo




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