Tanto tempo que não vejo chuva
que me dá até angústia
Parece que as gotas só saltam
de precipícios rasos
dos nossos suores, dos nossos olhares
e secam de imediato ao tocar o asfalto
Tanto tempo que não vejo poça
nem a moça nem a cabeça com o balde
Tanto tempo que faz eco o poço
Tanto tempo que não molho o passo
que não vejo lama nem o barro
nem a vaca nem o carro atolado
E a represa vazia, acabou-se
e o rio de areia
e o chuveiro e a cachoeira
chorando à conta-gotas
Quanta boca seca
Saliva engolida
Nem banho de bica
Piscina ou mangueira
Tá virando coisa rara
artigo de indústria
de caminhão pipa
ouro de garrafa
Tanto tempo que não vejo chuva
que evaporo para onde eu possa
virar partícula d'água
e saltar sem pára-quedas
me encharcar como um moleque
me hidratar como molécula
Só de pensar me afogo
que eu abra os braços
nessa terra turva
e que venha a chuva!
Alan Salgueiro
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