VAGÃO DESTEMPERADO



















Vagão destemperado
A mão mira no teto
detectando a possibilidade
de surgir algum vento
como se clamasse aos céus
no seu apelo


A mochila junto ao corpo
Um assopro meio inútil no pescoço
O suor da pele sem sensualidade
sugere meio nojo
parece até que é cola
grudando o sufoco


A gota pára e brilha no meio da testa
Os testes de arrefecimento de novo falharam
O sol faz companhia ao nosso sofrimento
A roupa já responde com umas marcas d'água


O inferno dá acesso ante a superfície
Me lembro até da cela dos presidiários
Toalha enxuga o rosto dos meus desalentos
A lentidão cozinha até os meus neurônios
Demônios que concedem o transporte público
Queria o alívio só por um momento


Têmporas de cachoeira
Sal nem é de lágrima
Minhas intempéries
de mobilidade



Alan Salgueiro

Um comentário:

Alan Salgueiro disse...

Valeu, meu amigo! Essa foi escrita mesmo dentro de um vagão?

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