Bem sei, Amor, que é certo o que receio;

























Bem sei, Amor, que é certo o que receio;
mas tu, porque com isso mais te apuras,
de manhoso mo negas, e mo juras
no teu dourado arco; e eu to creio.


A mão tenho metida no teu seio,
e não vejo meus danos às escuras;
e tu contudo tanto me asseguras
que me digo que minto, e que me enleio.


Não somente consinto neste engano,
mas inda to agradeço, e a mim me nego
tudo o que vejo e sinto de meu dano.


Oh! poderoso mal a que me entrego!
Que, no meio do justo desengano,
me possa inda cegar um moço cego!


Luiz Vaz Camões

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