Ayrton
"Os Heróis nascem!
Os homens morrem.
a Filípides, 490 a.C.,
o semi-deus de Maratona."
Campeei o touro bravio,
o bisonte, o cavalo selvagen,
às pradarias d‘Espanha
e a minha crônica foi escrita,
em pedra,
nas galerias de Altamira...
Depois eu sentei praça
a serviço de Rainhas e Faraós;
os crocodilos e os leões
foram dominados à minha lança...
e a minha crônica foi escrita
ao gentil hieroglifo,
eterno,
Templos & Palácios,
em terras d‘Egito...
Em seguida fui a Roma:
——— Ave, Cæsar,
morituri te salutant !
E ao gládio e à malha
vi o polegar de César:
abaixado,
a lâmina do herói
me trespassava as entranhas...
Noutras, o polegar alevantado,
o contendor, valente,
dominado;
sempre ganhei,
só uma vez perdi
e a minha crônica se inscreveu
nos séculos:
Spartacus,
Quo Vadis ?
Ben Hur !!!
E quando o fio da morte
corria pela minha mão...
e via nos escombros,
nos olhos baços,
nos lábios retorcidos:
——— Ave, César,
os que vão morrer te saúdam!
Eu,
clemente,
procurava nos olhos do Imperador
o socorrido habet
para o outro, caído:
levanta-te,
amigo !
E bebíamos até cair,
nas tavernas de Roma...
Tem sido assim:
o uivo da morte
meu prêmio,
minha glória...
Anos depois,
sentei praça numa plaza de toros
a serviço das pontas,
à femoral
e coloquei a penhor mi sangre...
o Miúra me passa
quente,
rápido,
rente,
e faço que não vejo...
Um leve meneio,
uma rápida polegada,
o perigo dissipado...
mas eu não seria un cabellero,
un torero,
el matador!
E não me mexo:
rente,
rente à femoral,
o chão estremece,
rufam os tambores:
Olé!
e os corações ...................................... Olé!
Banderillas!
Banderillas!
Às vezes me perco
no labirinto da morte,
às curvas
e às pontas finas,
carícias da morte
en mi corazón...
O arrepio:
faz parte, sempre fez,
mas os esmorecidos disseram que vão serrar
os chifres da Fera,
fazer pistas retas,
couraças de malha,
protetor perfeito à femoral...
o Miúra,
mero garrote
de circo,
chifres de algodão...
risco:
de zero!?
Estão dizendo que querem pista reta,
carro seguro,
piloto prudente,
competidores gentis,
juízes honestos,
tempo de sol...
limites, limites — dizem —
obedecidos.
Estão loucos!
Limites?
——— Se nunca tive limites!?
Mandem-me limar os chifres deste Miúra,
injetem mais sangue nos olhos dele,
enlargueçam-lhe as patas para o coice,
dêem-lhe mais peso e agilidade...
E eu,
David,
pequeno e audaz,
a serviço das femorais,
a serviço das fêmeas,
a serviço dos teus olhos, amor,
saberei banderillearlo:
o chapéu,
a capa,
y mi corazón
aos teus pés,
à tua flor!
Onde tem uma reta,
me fechem uma curva,
onde tem sol, me botem chuva,
pista de cotovelos
e labirintos
laberintos de su corazón...
E a minha crônica está escrita
no coração das fêmeas,
trespassado às banderillas,
tardes de Toledo
y Sevilla...
Banderillas!
Banderillas!
Olé .............!!!
Um dia,
um só,
único dia,
toda la sangre de las hembras
às suas coxas derramado
derramei à minha coxa:
fêmur,
frêmito,
femoral...
E a minha crônica se conclui
em todas as praças de touros,
del país de España:
Olé!
Olé!
Olé ................................!
Finalmente sentei praça
com os cavalos de prata...
1. e ganhei
e ganhei
e ganhei
e ganhei
e ganhei
e ganhei
2. e ganhei
e ganhei
e ganhei
e ganhei
e ganhei
e ganhei
3. e ganhei
Senna...............
...............Senna
Senna...............
——— Onde estás ?
Acabei de sentar praça
numa nova scuderie:
pole position,
primeiro piloto...
de Elias...
Aquele...
das Carruagens!
de Fogo...
Fire
Fire
Fire
ao Ritual Fire Dance, the poem!
Soares Feitosa
Salvador, BA., noite alta, 01.05.94, Ayrton Senna, última corrida.
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