«Meu filho:
onde vais
que tens do rio o caminhar?»
Não espreites a estrada, mãe,
que eu nasci
onde o tempo se despenhou.
«Meu filho:
onde te posso lembrar
se apenas te dei nome para te embalar ?»
Mãe, minha mãe:
não te pese saudade
que eu voltarei sempre
como quem chega do mar.
«Meu filho:
onde te posso nascer
se meu ventre seco
nunca ninguém gerou?»
Mãe, nascerás sempre
na pedra em que te escuto:
a tua ausência, meu luto,
teu corpo para sempre insepulto.
onde vais
que tens do rio o caminhar?»
Não espreites a estrada, mãe,
que eu nasci
onde o tempo se despenhou.
«Meu filho:
onde te posso lembrar
se apenas te dei nome para te embalar ?»
Mãe, minha mãe:
não te pese saudade
que eu voltarei sempre
como quem chega do mar.
«Meu filho:
onde te posso nascer
se meu ventre seco
nunca ninguém gerou?»
Mãe, nascerás sempre
na pedra em que te escuto:
a tua ausência, meu luto,
teu corpo para sempre insepulto.
Mia Couto, em “Tradutor de Chuvas”. Lisboa: Editorial Caminho, 2011
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