Eu te adoro, mulher de olhos azuis e castos;
Amo-te co’o fervor dos meus sentidos gastos;
Amo-te co’o fervor dos meus preitos diários.
É puro o meu amor, como os puros sacrários;
É nobre o meu amor, como os mais nobres fastos;
É grande como os mares altíssonos e vastos;
É suave como o odor de lírios solitários.
Amor que rompe enfim os laços crus do Ser;
Um tão singelo amor, que aumenta na ventura;
Um amor tão leal que aumenta no sofrer;
Amor de tal feição que se na vida escura
É tão grande e nas mais vis ânsias do viver,
Muito maior será na paz da sepultura!
Fernando Pessoa
Ilha Terceira
6-1902
Pessoa por Conhecer – Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990. – 121.
1ª publ.:«Sonetos de Amor». José Blanco. in Colóquio-Letras, nº 88. Lisboa. F. C. Gulbenkian, Nov. 1985.
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