Soneto I














Vós que escutais em rima esparsa o coro
dos suspiros com que eu meu ser nutria,
naquele erro em que jovem me perdia,
quando outro eu era do que sou, e coro:

no vário estilo em que eu razoo e choro
entre esperanças vãs, vã agonia,
onde haja quem do amor provou a via,
se não o seu perdão, piedade imploro.

Mas bem percebo que de todo o povo
fui muito tempo fábula, e frequente
de mim mesmo comigo me envergonho:

do divagar, vergonha é o fruto novo,
e o arrepender-me, e o ver bem claramente
que quanto agrada ao mundo é breve sonho.


Em italiano:

Voi ch'ascoltate in rime sparse il suono
di quei sospiri ond'io nudriva ´l core
in sul mio primo giovenile errore
quand'era in parte altr'uom da quel ch'i' sono,

del vario stile in ch'io piango e ragiono
fra le vane speranze e ´l van dolore,
ove sia chi per prova intenda amore,
spero trovar pietà, non che perdono.

Ma ben veggio or si come alpopol tutto
favola fui gran tempo, onde sovente
di me medesmo meco mi vergogno:

e del mio vaneggiar vergogna è ´l frutto,
e 'l pentersi, e ´l conoscer chiaramente
che quanto piace al mondo è breve sogno.


Francesco Petrarca 
Cancioneiro. Tradução José Clemente Pozenato. Ilustração Enio Squeff. Cotia, SP: Ateliê Editorial; Campinas, S P: Editora da Unicamp, 2014. 536 p. (Coleção Clássicos Comentados) capa dura. ISBN 978-85-679-2 (Ateliê Editorial) – 978-85-268-1217-8 (Editora da Unicamp)

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