De me acabar a vida neste estado,
Não vivo com meu mal tão enganado,
Que não espere dele muito mais.
De longo tempo já me costumais
A viver de algum bem desesperado:
Já tenho co'a Fortuna concertado
De sofrer os tormentos que me dais.
Atada ao remo tenho a paciência
Para quantos desgostos der a vida;
Cuide quanto quiser o pensamento.
Que pois não posso ter mais resistência
Para tão dura queda, de subida,
Aparar-lhe-ei debaixo o sofrimento.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
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