A despedida da morte




















Falo de mim porque bem sei que a vida
lava o meu rosto com o suor dos outros,
que também sou, pois sou tudo o que posto


ao meu redor se cala, e é pedra, ou, água,
cicia apenas —O teu tempo é a trava
que te impede de ter a calma clara


do chão de lajes que o sol recobre,
este esperar por tudo que não corre,
nem pára e nem se apressa, e é só estado,


e nem sequer murmura:—O que te trazem
é o riso e o lamento, o ser amado
e o roçar cada dia a tua morte,


que não repõe em ti o, sem passado,
ficar no teu escuro, pois herdaste
e legas um sussurro, um som de passos,


uma sombra, um olhar sobre a paisagem,
memória, cálcio, húmus, eis que o mundo
nada rejeita, sendo pobre e triste
no esplendor que nos dá. A madrugada.


Alberto da Costa e Silva

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