Deve-se estar sempre bêbado. Está tudo aí: é a única
questão. A fim de não se sentir o fardo horrível do Tempo
que parte tuas espáduas e te dobra sobre a terra, é preciso
te embriagares sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a teu
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a teu
gosto. Mas embriaga-te.
E se alguma vez, sobre os degraus de um palácio, sobre a
E se alguma vez, sobre os degraus de um palácio, sobre a
verde relva de uma vala, na sombria solidão de teu quarto,
tu acordas com a embriaguez já minorada ou finda, peça ao
vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo
aquilo que foge, a tudo aquilo que geme, a tudo aquilo que
gira, a tudo aquilo que canta, a tudo aquilo que fala,
pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o
pássaro, o relógio, te responderão: “É a hora de se
embriagar! Para não ser como os escravos martirizados no
Tempo, embriaga-te; embriaga-te sem cessar! De vinho, de
poesia ou de virtude, a teu gosto.”
.
XXXIII
Enivrez-vous
Il faut être toujours ivre. Tout est là: c’est l’unique
question. Pour ne pas sentir l’horrible fardeau du Temps qui
brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous
enivrer sans trêve.
Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise.
Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d’un palais, sur l’herbe
Et si quelquefois, sur les marches d’un palais, sur l’herbe
verte d’un fossé, dans la solitude morne de votre chambre,
vous vous réveillez, l’ivresse déjà diminuée ou disparue,
demandez au vent, à la vague, à l’étoile, à l’oiseau, à
l’horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce
qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle,
demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l’étoile,
l’oiseau, l’horloge, vous répondront: “Il est l’heure
de s’enivrer! Pour n’être pas les esclaves martyrisés du Temps,
enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie
ou de vertu, à votre guise.”
Charles Baudelaire, em “Poetas franceses do século XIX”. [organização e tradução José Lino Grünewald]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
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