Como recolher-te, povo,no ombro das coisas?
Preciso juntar tua bandeira
no caminho
do sol, das oliveiras.
Preciso recolher-te
onde não minto
e sou rebelde.
Pão.
Prego, espectro.
A alma imortal
e a outra alma
que é povo.
Casaco batido e longo,
o tempo se adivinha.
Tu também te adivinhas
cada manhã, embora
em fatias. A aurora
te adivinha na pura
distração, sem nuvem.
O menino ao nascer te adivinha
e é o mundo
chorando, adivinhando
o outro lado. O escuro.
É teu lábio: respiras.
Em cacos teu espelho.
Em cacos e sementes.
Já viajam sem ver-te.
E vão-se estilhaços
de ti, vão-se de braços
com o ar, as horas todas.
E o meu velho desespero.
O povo é remo
e a pátria, imóvel barco.
Teus fragmentos viajam
absurdos, indomáveis
e recolher-te, faz-me
nascer de novo.
Bendito seja o teu fruto,
América. Bendito seja
o ventre que tanto amei
e escuto pulsar, povo.
Teu fruto
no pomar da memória.
Quero-te inteiro. Ouso
por ti sofrer.
Vou recolher-te, fio
a fio. Medo a medo.
E quando fores completo,
virás me recolher.
Carlos Nejar
Preciso juntar tua bandeira
no caminho
do sol, das oliveiras.
Preciso recolher-te
onde não minto
e sou rebelde.
Pão.
Prego, espectro.
A alma imortal
e a outra alma
que é povo.
Casaco batido e longo,
o tempo se adivinha.
Tu também te adivinhas
cada manhã, embora
em fatias. A aurora
te adivinha na pura
distração, sem nuvem.
O menino ao nascer te adivinha
e é o mundo
chorando, adivinhando
o outro lado. O escuro.
É teu lábio: respiras.
Em cacos teu espelho.
Em cacos e sementes.
Já viajam sem ver-te.
E vão-se estilhaços
de ti, vão-se de braços
com o ar, as horas todas.
E o meu velho desespero.
O povo é remo
e a pátria, imóvel barco.
Teus fragmentos viajam
absurdos, indomáveis
e recolher-te, faz-me
nascer de novo.
Bendito seja o teu fruto,
América. Bendito seja
o ventre que tanto amei
e escuto pulsar, povo.
Teu fruto
no pomar da memória.
Quero-te inteiro. Ouso
por ti sofrer.
Vou recolher-te, fio
a fio. Medo a medo.
E quando fores completo,
virás me recolher.
Carlos Nejar
Publicado no livro Árvore do mundo (1977).
In: NEJAR, Carlos. A genealogia da palavra. Introd. Eduardo Portella. São Paulo: Iluminuras, 1989. p.113-11
In: NEJAR, Carlos. A genealogia da palavra. Introd. Eduardo Portella. São Paulo: Iluminuras, 1989. p.113-11