A sorte, muita vez, é bem amarga.
Vai-se, corrente abaixo, sem sentir,
e eis, de repente, o passo nos embarga
um cachão de água brava a refluir.
Eis a piroga a corcovar de ilharga,
a vela a estremeer, a ir, a vir;
eis que rolou por água abaixo a carga,
eis a água pelas bordas a subir.
Mas tenhamos paciência! Ao menos esta
não sossobre aos boleus da sorte infesta,
para todo o perdido recompor;
e, se o não recompõe, ao menos, diga:
— Raivai, águas! Raivai, sorte inimiga!
exijo inteiro o meu quinhão de dor.
Amadeu Amaral -(, de Lâmpada Antiga, 1921)
Vai-se, corrente abaixo, sem sentir,
e eis, de repente, o passo nos embarga
um cachão de água brava a refluir.
Eis a piroga a corcovar de ilharga,
a vela a estremeer, a ir, a vir;
eis que rolou por água abaixo a carga,
eis a água pelas bordas a subir.
Mas tenhamos paciência! Ao menos esta
não sossobre aos boleus da sorte infesta,
para todo o perdido recompor;
e, se o não recompõe, ao menos, diga:
— Raivai, águas! Raivai, sorte inimiga!
exijo inteiro o meu quinhão de dor.
Amadeu Amaral -(, de Lâmpada Antiga, 1921)
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