Soneto VI


















Assim, não deixemos a mão rota do inverno desfigurar
De ti o teu verão antes que sejas destilada;
Adoça teus sumos; orna um lugar
Que tenha o valor da beleza antes de sucumbires.

Este uso não é a proibida usura
Que alegra os que pagam os devidos juros –
Para que cries, para ti mesma, um novo ser,
Ou sejas dez vezes mais feliz do que és

Serias dez vezes mais alegre,
Se em dez de ti dez vezes te transmudasses;
Então, o que poderia fazer a Morte se partisses,
Passando a viver na posteridade?

Não sejas turrona, pois és por demais bela
Para que a Morte vença e os vermes te consumam.



Sonnets VI

Then let not winter's ragged hand deface,
In thee thy summer ere thou be distilled:
Make sweet some vial; treasure thou some place,
With beauty's treasure ere it be self-killed:

That use is not forbidden usury,
Which happies those that pay the willing loan;
That's for thy self to breed another thee,
Or ten times happier be it ten for one,

Ten times thy self were happier than thou art,
If ten of thine ten times refigured thee:
Then what could death do if thou shouldst depart,
Leaving thee living in posterity?

Be not self-willed for thou art much too fair,
To be death's conquest and make worms thine heir.

William Shakespeare - Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta

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