Em certo lugar do país
se reúne a Academia do Poeta Infeliz.
Severos juízes da lira alheia,
sabem falar vazio de boca cheia.
Este não vale. A obra não fica.
Faz soneto, e metrifica.
E esse aqui, o que pretende?
Faz poesia, e o leitor entende!
Aquele jamais atingirá o paraíso.
Seu verso contém a blasfêmia e o riso.
Mais de três linhas é grave heresia,
pois há de ser breve a tal poesia.
E o poema, casto e complexo,
não deve exibir cenas de nexo.
Em coro a turma toda rosna
contra a mistura de poesia e prosa
Cachaça e chalaça, onde se viu?
Poesia é matéria de fino esmeril.
Poesia é coisa pura.
Com prosa ela emperra e não dura.
É como pimenta em doce de castanha.
Agride a vista e queima a entranha.
E em meio a gritos de gênio e de bis
cai no sono e do trono o Poeta Infeliz.
Antonio Carlos Secchin
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