Japeri
Acordas bem cedo!
Tem que trabalhar
Está bem longe, acanhado,
Escondido no final da baixada.
Madrugadas frias
Com ruas de terra e um verde calado
Cinza de pouca esperança
Passos miúdos e apressados
De um povo que corre
Como as águas do Guandu
Num ritmo suave que nunca pára.
O sol acorda os montes
E ao redor da ferrovia
Tudo desperta e se mexe
Com espreguiçar de quem não se espera muito.
As crianças brincando de bola,
Soltando pipa e indo para escola.
Poucas ruas asfaltadas
Com casas longas e outras apertadas
Algumas tão pobres, outras como rosto de moça rica pintada.
Aonde os animais vivem em harmonia com humanos.
E humanos que vivem como animais ajuntam seus pertences
Para próximo acampamento noturno.
Ao chegar da noite
Tuas noites têm estrelas
A criançada brinca pelas ruas descalçadas
Sem se preocupar com o amanhã.
A lua brilha achando graça
Junto com as moças nas acanhadas praças,
Que não tem hora para adormecer.
O povo vai descendo dos trens
Com bolsas, sonhos e cansaço
E logo adormece pequena cidade
Do meu coração.
As casas cheiram silêncio
As ruas cheiram escuridão
Esperando o nascer de um novo dia
Com sua rotina repetitiva.
Henrique Rodrigues Soares – O que é a Verdade?
Oferenda
silêncio amor
deixa que tudo tem seu encaixe
do que é vivo e vibra
revolvi a música
nesse pedaço de inocência
papel alado em branco
o perfume da essência
miragens amor
paisagens, versos, sonetos
na pele do desejo
Luiza Maciel Nogueira
Das Palavras
São difíceis as palavras,
nem sempre espadas,
nem sempre flores,
entrelaçadas são poesia,
disparadas são armas,
tristeza e melancolia.
Ás vezes amor, às vezes inferno,
vêm do fundo da alma,
explícitas ou veladas,
ressoam tristemente bêbadas,
às vezes verão, às vezes inverno.
Penetram clandestinas na alma,
como bordados feito à mão,
fogem quando mais se precisa,
São reais ou mera ilusão.
Palavras de amor não ditas,
são silenciosas reticências,
fugazes e sorrateiras,
levam poemas nas asas, mas
adormecem escondidas na mão…
Sônia Schmorantz
Canto Mínimo
Poesia de arco-íris,
magia de luz morrendo,
felicidade em musica diluída,
paixão no rosto da Virgem,
êxtase amargo da vida...
Flores batidas pela tempestade,
grinaldas postas sobre sepulturas,
alegria que não dura,
estrela que cai no escuro:
véu de beleza e de luto
sobre a voragem do mundo.
Hermann Hesse
Vozes
Grita o vento nos muros da noite
como reflexos de espelhos partidos.
Há um ruído de coisas magoadas
lembrando madrugadas enfermas.
O vento e o ruído acelerando cadencias
são como garças
em tardes eróticas.
Só as luzes se repetem.
Só os sons se beijam
em baladas insanas.
Há pegadas escondidas
entre alamedas tranqüilas
enquanto
o tédio, a busca e a lassidão
ainda se aninham.
Alvina Nunes Tzovenos
"Viagem"
Olhar perdido pelo jardim.
Divagações
Nascente dos pensamentos
me conduzem além de outros portais.
Nas margens, acenos breves
sinalizando minha presença.
Nada digo,
inexorável trajeto
das leves emoções.
O epílogo me atrai
para meu coração,
marcado pelo intenso
sentido vital do passeio.
Volto então com meu olhar
do qual quase fugi de mim
sem nexo.
Quem vai entender um vôo livre?
Ou um amor intenso não vivido?
Aharon
Ergo uma rosa...
" Ergo uma rosa, e tudo se ilumina
Como a lua não faz nem o sol pode:
Cobra de luz ardente e enroscada
Ou vento de cabelos que sacode.
Ergo uma rosa, e grito a quantas aves
O céu pontuam de ninhos e de cantos,
Bato no chão a ordem que decide
A união dos demos e dos santos.
Ergo uma rosa, um corpo e um destino
Contra o frio da noite que se atreve,
E da seiva da rosa e do meu sangue
Construo perenidade em vida breve.
Ergo uma rosa, e deixo, e abandono
Quanto me dói de mágoas e assombros.
Ergo uma rosa, sim, e ouço a vida
Neste cantar das aves nos meus ombros. "
José Saramago
Meus oito anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!
Casimiro de Abreu
VI
Uma rosa só são todas as rosas
e esta aqui: ágil vocábulo
o único, o perfeito
emoldurado pelo texto das coisas.
Como dizer sem ela
o que foram nossas esperanças
e em meio à constante errância
os momentos ternos e breves.
Rainer Maria Rilke
Uma vida nova é primavera
Entrei com toda reverencia em minha alma
e meu primeiro sentimento diante da imensidão
de um azul revigorante, emoções explodindo
e eu feito uma criança comecei a voar pelas estrelas
de diferentes cores, todas em comunhão,
livre, solto leve sentindo todos os amores em uma doce união.
Da minha alma calma, uma estrela me atraiu
e nela fui me aproximando e sua luz brilhou
em minha tristeza pois era a felicidade vindo
sorrindo de braços abertos com todo carinho
sob meu céu repleto de nuvens
quase querendo chorar.
Juntei minhas mãos caí
de joelhos e agradeci,
Divina graça era a minha amiga
a Felicidade me abraçando
esta visita tão esperada
não sei nunca quando ela vem
pode ser no inverno, outono,verão
mas desta vez ela apareceu justamente
no primeiro dia de primavera
E se fez verão meu céu.
Aharon
Cisnes
Este cansaço de passar como que atado
a coisas que ainda não foram feitas,
parece o caminho incriado do cisne.
E o morrer, esse desapegar-se
do fundo em que diariamente estamos,
seu tímido abandonar-se às águas
que mansamente o acolhem e por serem
felizes e já passadas, onda a onda,
sob seu corpo se retraem;
então, firme e tranqüilo,
com realeza e crescente segurança,
abandona-se o cisne ao deslizar.
Rainer Maria Rilke
Versos do Desejo
Que tal rimar a vida
com nossa alma
abandonada à deriva
buscando o encontro
esperado e decidido?
Vamos andar nas nuvens
como quem pisa em flores,
eternas como os sabores
de um amor adolescente
delineado na essência de se dar
Que tal se esse encontro
desmistificar a dor e o sofrimento
e agasalhar no peito o encantamento
para desdizer de vez o que não é?
Aí então depois da entrega
que da metade será o dobro,
nosso inteiro sorrirá de novo
para que nosso viver
possa trazer a paz tão desejada
e o perdão tão esperado...
Conceição Bentes/Marçal Filho
Somos Solidão
Nasceste no deserto das mãos,
no instante em que só estive
renascendo no mar de sonhos
com o sabor do sol,
vazio como pouso das gaivotas
Na curva dos dias,
cantei a melodia silenciosa
da luz que declina
sobre a lente da mente
Fomos o ritmo
da respiração suspensa,
a insônia da palavra lavrada,
a luz do medo,
a simulação da vida,
traços no chão
sonolentos e apagados
Conceição Bentes
Senhas
Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas
O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades
O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Não, não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem
Eu gosto dos que têm fome
E morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem
Adriana Calcanhotto
Nua
Olho a cidade ao redor
E nada me interessa
Eu finjo ter calma
A solidão me apressa
Tantos caminhos sem fim
De onde você não vem
Meu coração na curva
Batendo a mais de cem
Eu vou sair nessas horas de confusão
Gritando seu nome entre os carros que vêm e vão
Quem sabe então assim
Você repara em mim
Quem sabe então assim
Você repara em mim
Corro de te esperar
De nunca te esquecer
As estrelas me encontram
Antes de anoitecer
Olho a cidade ao redor
Eu nunca volto atrás
Já não escondo a pressa
Já me escondi demais
Eu vou contar pra todo mundo
Eu vou pichar sua rua
Vou bater na sua porta de noite
Completamente nua
Quem sabe então assim
Você repara em mim
Quem sabe então assim
Você repara em mim
Eu vou contar pra todo mundo
Eu vou pichar sua rua
Vou bater na sua porta de noite
Completamente nua
Quem sabe então assim
Você repara em mim
Quem sabe então assim
Ana Carolina/Vitor Ramil
Sentença
Já fomos felizes
Quando beijos
Rimavam com desejos.
Se anos de rotina
Fez do amor oficina
De atores e atrizes.
Os olhares ardidos
Agora são frios
O desnudar escondido
Agora sem brio.
Um exercício tardio
Sem sorrisos, sem energia
Diálogo e carinho vazio
Limitado e sem ousadia.
Se alguém sofre
Não se sabe
Toda rudeza encobre
E nada de belo cabe
No rol de gestos imitados
No prazer copiado
Ou procura de culpados
Para um fim acertado.
Henrique Rodrigues Soares – O que é a Verdade?
Poetas
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...
Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.
Pense nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem sei eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao solo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.
Alberto Caeiro
A Lição de Poesia
Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.
Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:
nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.
A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.
Monstros, bichos, fantasmas
de palavras, circulando,
urinando sobre o papel,
sujando-o com seu carvão.
Carvão de lápis, carvão
da idéia fixa, carvão
da emoção extinta, carvão
consumido nos sonhos.
A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.
A física do susto percebida
entre os gestos diários;
susto das coisas jamais pousadas
porém imóveis ? naturezas vivas.
E as vinte palavras recolhidas
nas águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.
Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação, a densidade
menor que a do ar.
João Cabral de Melo Neto
Tua Cidade
Se você soubesse desse grito
Que eu trago preso na garganta
E dessa dor só por saber
Que te explicar não adianta - entenderia
Que a razão do meu cansaço
É essa vontade de te ver
E que em tudo que eu faço
Tem um pedaço de você
Se você soubesse desse trem
Que corre solto no meu peito
E dessa febre que me faz arder
Em sua espera no meu leito - perceberia
Que as estradas onde passo
São estradas por só ser
São atalhos que eu traço
Pra chegar até você
Pois a cidade mais bonita
É a que encontro nos teus braços
Na vertigem dos teus beijos
E no calor do teu abraço
Ana Carolina
As Horas
As Horas cismam no ar parado:
— Passado.
As Horas bailam no ar fremente:
— Presente.
As Horas sonham no ar obscuro:
— Futuro.
Da Costa e Silva
Libertação
É certo, amei-te além do meu bom senso,
com força, com delírio... Com loucura!
Amei, tão de profundis, tão intenso...
Que me perdi... Quando à tua procura.
E achei-me em pranto largo, triste, denso,
nos campos semeados de ternura.
Amei-te... E o meu amor foi tão imenso...
E para ti, foi tudo uma aventura...
Porém, quando faltou-me o tudo e o nada,
a vida fez surgir nova alvorada,
nos sonhos que eu sonhei, como jamais.
E agora, hoje eu me encontro em outro peito,
que pulsa em meu viver e no meu leito...
De ti... Por fim, eu não me lembro mais!
Patrícia Neme
Charneca em Flor
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas!
O que trago em mim?
Eu ouço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nessa febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
Florbela Espanca
A idéia
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica
Augusto dos Anjos
A nau
Sôfrega, alçando o hirto esporão guerreiro,
Zarpa. A íngreme cordoalha úmida fica. ...
Lambe-lhe a quilha a espúmea onda impudica
E ébrios tritões, babando, haurem-lhe o cheiro
Na glauca artéria equórea ou no estaleiro
Ergue a alta mastreação, que o éter indica,
E estende os braços de madeira rica
Para as populações do mundo inteiro!
Aguarda-a ampla reentrância de angra horrenda
Pára e, a amarra agarrada à âncora, sonha!
Mágoas, se as tem, subjugue-as ou disfarce-as...
E não haver uma alma que lhe entenda
A angústia transoceânica medonha
No rangido de todas as enxárcias!
Augusto dos Anjos
Ventos
Já nem sei quando sejam madrugadas
- ou dias plenos, de um viver ardente...
Pois pelas minhas mais sutis estradas,
um vento aflito busca-te, imprudente!
Cavalga amaro e nas fundas passadas,
lacera os sonhos da espera silente.
Espera antiga, de vidas passadas,
que não permite o agora em meu presente.
Cavalga o vento, dia ou madrugada...
E tem-me a vida, morta, devastada,
cativa eterna de um existir tão só...
Duma promessa, por ti, imolada...
Vento cortante, que esta alma cansada,
sopra ferino... E me reduz a pó!
Patricia Neme
A Canção da Espera
Quando deixares meu desavisado coração
não esqueças de deixar a luz da lua acesa.
Deixa a chave da esperança sobre a mesa
do quarto onde dormiu teu último verão.
Não te esqueças das romãs do teu outono
só porque as sombras do inverno te virão
como lembranças de um amor de ocasião
que não conciliava mais o próprio sono.
Talvez eu me adormeça aqui para sonhar
com o outro lado temporão da primavera
onde eu sonhar me seja estar à tua espera
doendo de um retorno de qualquer lugar.
Estarei dividindo com as águas do riacho
uma breve canção de prazer e sofrimento
sobre a vida refeita de pena sem lamento
o coração envolto no seu próprio abraço.
Afonso Estebanez
Ode ao Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, a água
é a tua bandeira,
agita as suas cores,
sopra e retine no vento,
cidade,
negra náiade,
de claridade sem fim,
de abrasadora sombra,
de pedra com espuma
é o teu tecido,
o cadenciado balanço
da tua rede marinha,
o azul movimento
dos teus pés areentos,
o aceso ramo
dos teus olhos.
Rio, Rio de Janeiro,
os gigantes
salpicam a tua estátua
com pontos de pimenta,
deixaram
na tua boca
dorsos do mar, barbatanas
perturbadoramente
mornas,
promontórios
da fertilidade, tetas da
água
declives de granito,
lábios de ouro,
e entre as pedras
quebradas
o sol marinho
iluminando
rutilantes espumas.
Ó Beleza,
ó cidadela
de pele fosforescente,
romã
de carne azul, ó deusa
tatuada em sucessivas
ondas de ágata negra,
da tua nua estátua
um aroma de jasmim
molhado
esquecido,
no Norte
de espinhos,
esquecido,
com sede nos planaltos,
esquecido,
nos portos mordido
pela febre,
esquecido,
à porta
da casa de onde o expulsaram,
pedindo-te
apenas um olhar,
esquecido.
Noutras terras,
reinos, nações
ilhas,
a cidade capital,
a coroada,
foi colméia
de trabalhos humanos,
amostra do azar
e do acerto,
fígado da pobre monarquia,
cozinha da pálida república.
Tu és a espelhante
montra
de uma sombria noite,
a garganta
coberta
de águas marinhas
e ouro
de um corpo
abandonado,
és a porta
delirante
de uma casa vazia,
és
o antigo pecado,
a salamandra
cruel,
intacta
na fogueira
das longas dores do teu povo,
és
Sodoma,
Sim,
Sodoma
deslumbrante,
com um fundo sombrio
de veludo verde,
rodeada
de crespa sombra, de águas
ilimitadas, dormes
nos braços
da desconhecida Primavera
dum planeta selvagem.
se desprende, vem no suor, um
ácido
pegajoso
de cafezais e de frutarias
e pouco a pouco sob o teu
diadema,
entre a dupla maravilha
dos teus seios,
entre cúpula e cúpula
da tua natureza
aparece o dente da desgraça,
a cancerosa cauda
da miséria humana,
nos montes leprosos
o cacho inclemente
das vidas,
pirilampo terrível,
esmeralda
extraída
do sangue,
o teu povo estende-se
até aos confins da selva
num rumor abafado,
passos e surdas vozes,
migrações de esfomeados,
escuros pés com sangue,
o teu povo,
para lá dos rios,
na densa
amazônia,
Rio, Rio de Janeiro
quantas coisas tenho
para te dizer. Nomes
que nunca esquecerei,
amores
que amadurecem o seu perfume,
encontros contigo, quando
do teu povo
uma onda
agregue ao teu diadema
a ternura,
quando
à tua bandeira de águas
subam as estrelas
do homem,
não do mar,
não do céu,
quando
no esplendor
da tua auréola
eu veja
o negro, o branco, o filho
da tua terra e do teu sangue,
elevados
até à dignidade da tua
formosura,
iguais na luz resplandecente,
proprietários
humildes e orgulhosos
do espaço e da alegria,
então, Rio de Janeiro
quando
alguma vez
para todos os teus filhos,
e não somente para alguns,
abrires o teu sorriso, espuma
de morena náiade,
então
eu serei o teu poeta,
chegarei com a minha lira
para cantar em teu aroma
e na tua cintura de platina
dormirei,
na tua areia
incomparável,
na frescura azul do leque
que tu abrirás no meu sono
como as asas de uma
gigantesca
borboleta marinha.
Pablo Neruda
São Paulo
São Paulo dos arranha-céus
Hoje paro pra te homenagear
Pela importância que mereces
E que o Brasil te dá
São Paulo da esperança e dos sonhos
Palco de acontecimentos relevantes
Cidade dos retirantes. Terra de migrantes
Do nordestino, do mineiro
Enfim, de todo o povo brasileiro.
Mesmo com tanta aglomeração
Ainda que haja agitação
Não perdes a beleza, nem a magia
Não tira o brilho, nem a alegria
De ser escolhida pra viver.
Cidade amada por tantos
Pelas maravilhas de seus encantos.
Se tens seus problemas
Não é de sua exclusividade
Há em toda cidades
Sejam grandes ou pequenas.
São Paulo das noites paulistana
Dos grandes clubes de futebol
Do parque do Ibirapuera
Inúmeras áreas de lazer
Para diversão e prazer.
Ataíde Lemos
Universo do Poeta
O poeta quando um verso escreve,
ao mundo inteiro emudece,
suas palavras não tem fronteiras,
ecoando no tempo, em suave prece!
Seu Cálice Sagrado, trazendo paz,
Segredos e mistérios se revelam,
nas linhas escritas, que a mente rege,
qual maestro de soberbas emoções!
Santa e profana guerra de sentimentos,
amores, sonhos, dores e lamentos,
mesmo sem glórias, lutam em silêncio!
Poetas! São anjos, loucos ou guerreiros?
Como armas de combate, poemas e sonetos,
imortais em majestoso............UniVerso.
Reggina Moon
Boca temporã
A boca temporã, nessa risada
matinal, descuidosa, a linda boca
fresca de céu, perdidamente louca
pelo desejo apenas esmagada...
Nela respira ingênua madrugada,
a carne azul dos campos mal dormidos,
rios, aguadas, vila despertada
pelos ventos do alto, comovidos...
Nessa boca que aos poucos madurando
se oferece na árvore travessa,
vejo dormir as frutas assustadas,
as frutas sumarentas despontando.
Agasalhar no colo essa cabeça,
depois sair sonhando nas estradas.
Alphonsus de Guimaraens Filho
Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras
Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes ...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...
Cruz e Souza
Siderações
Para as Estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo...
Num cortejo de cânticos alados
Os arcanjos, as cítaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo...
Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
Ondas nevoentas de Visões levanta...
E as ânsias e os desejos infinitos
Vão com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta...
Cruz e Souza
Tempestades
Minhas tempestades
calam sons da noite,
adormecidas nos braços
dos meus devaneios
Com a alma,
escrevo caminhos
evidenciando o tempo
que possuo,
recolhidos em meus ocasos
Quero mais um verão,
para erguer as fragilidades
do mar profundo dos teus olhos,
ritmados na música aquecida
dos teus passos que me cercam
Conceição Bentes
Resposta à Vida
Minha resposta à vida
surgiu do instante
que renasci na poesia
como sinônimo
da real liberdade
Não aspiro o rigor dos gestos,
vem do vento o pensar lento
resguardando todo acalento
dissipando dores e desencantos
Basta o brilho dos sonhos,
incertos ao meu coração
temendo que me anoiteçam
meus eus dos quais eu fujo
exilados numa canção
Conceição Bentes
Tenho Medo
Tenho medo da dor de tua ausência
que me queima por dentro.
E da ternura eu tenho medo, dessa
beleza das noites secretas
quando chegas
sempre como se fosse a única vez.
Tenho medo de que um dia queiras
cessar esse rio de águas ardentes
onde mais do que os corpos
tocam-se as almas,
anjos desatinados luzindo no breu
Lya luft
Limpeza da Alma
Cinjo de vestes douradas
a alma que me concede
versejar em pleno ardor
no seio de muitos amores
Cada rima ganha vida
quando feliz anoiteço
na canção peregrina
das vozes que não calam
Alimento-me deste olhar denso
na música que apetece
o derradeiro tom da aurora
respirando momentos
de um amor passado
Conceição Bentes
Toada dos que não podem amar
Os que não podem amar
estão cantando.
A luz é tão pouca, o ar é tão raro
que ninguém sabe como eles ainda vivem.
Os que não podem amar
estão cantando,
estão cantando,
e morrendo.
Ninguém ouve o canto que soluça
por detrás das grades.
Emílio Moura
Agradecimentos!
Obrigado aos amigos que fizeram esta marca de mais de 10.000 visitas, este blog que começou pelo amor pelas letras, e hoje tem sido um livro aberto com textos de autores consagrados e poetas desconhecidos que amam o que fazem, de autores antigos aos nomes da atualidade.
Quero agradecer em especial a Maria Madalena que através de seu blog "Meus Poemas Favoritos" serviu para me contagiar a entrar neste mundo blogueiro.
Quero agradecer ao Antônio Carlos Januário por ter cedido suas imagens poéticas para enriquecer este humilde espaço.
Quero agradecer a Reggina Moon que sempre nos entusiasma com seu amor pelas poesias e pelo carinho com os poetas.
Quero agradecer a todos amigos blogueiros que sigo e os que me seguem.
Quero agradecer aos leitores que passaram por aqui, alguns deixando um comentário, outros deixando apenas sua marca.
E por fim Agradecer minha Família e o Deus Eterno por tudo.
Corinthians
Estou vendo de longe
a arquibancada balançar
são loucos que não param de gritar.
No calor ou no frio,
em Sampa ou no Rio,
corações corinthianos
como espartanos
mais do que a vitória
amam o embate de suas bandeiras.
Pode ser José ou Manuel
Um mundo de nomes na Fiel.
Não importa quem são!
Só cantam Timão!!Ô ô ô! Timão!
Maloqueiro sofredor...
Apaixonado e vencedor...
São estórias que viraram História
de uma paixão fiel por toda uma nação.
Henrique Rodrigues Soares
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