Despertares
























Ó despertares de manhãs provincianas
com chamadas para a missa,
em que os sinos vão
lentos ou violentos
conforme a pressa
do sacristão!

Madrugadas em que estão
com sol, unicamente,
a torre paroquial e o campanário;
mas ao meio-dia
as ruas, os subúrbios, como a via,
se atapetam de um ouro coronário.

Compaginadas à janela órfã
à qual a alma não assomará,
porque aquele já não veio,
porque aquele voltou a meio do caminho
e aquele já não virá;
compaginadas vão
as silenciosas sestas
em que o vento não corre.
Tão caladas que se ouve até o arrulho
das pombas lá na torre.

Casamenteiras visões
de amplas casas solteironas:
geleias, e goiabadas
que sabem a mel de abelhas;
suaves doces em calda
guardados na despensa a sete chaves.

O caseiro lindante com o triste:
as histórias caladas,
as janelas fechadas,
o pátio onde a umidade inda persiste,
os corredores amplos e achatados,
gatos intrometidos e mimados,
e canários mais louros do que o alpiste.




Despertares

Despertares de mañanas provincianas
con sus llamadas a misa;
porque las campanas van
lentas o violentas,
según la prisa
del sacristán.

Madrugadas en que están
con el sol, únicamente,
la torre parroquial y el campanario;
pero al medio día,
las calles, los suburbios y la vía
se alfombran con un oro coronario.

Compaginadas a la huérfana ventana
a la que el alma no se asomará;
porque aquello ya no vino,
porque aquello se ha devuelto del camino
y aquello ya no vendrá;
compaginadas van
las silenciosas siestas
en que el viento no corre.
Tan calladas que se oye hasta el arrullo
de las palomas, allá en la torre.

Casamenteras visiones
de casonas solteronas:
las jaleas, los guayabates
que saben a miel de abejas:
almíbares suaves
que el arcón guarda bajo siete llaves.

Lo hogareño lindante con lo triste:
las historias calladas,
las ventanas cerradas,
el patio donde lo húmedo persiste,
los corredores amplios y achatados,
gatos refectoleros y mimados,
y canarios más rubios que el alpiste.


Francisco González León 

Referências: Aurélio Buarque de Holanda Ferreira - (Seleta e Tradução). Grandes vozes líricas hispanoamericanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 97-99.

Nenhum comentário:

O Tempo seca o Amor

O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a ...

Nos últimos 30 dias.