À sombra das araucárias

















Não aprofundes o teu tédio. 
Não te entregues à mágoa vã.
O próprio tempo é o bom remédio:
Bebe a delícia da manhã.

A névoa errante se enovela
Na folhagem das araucárias.
Há um suave encanto nela
Que enleia as almas solitárias…

As coisas tem aspectos mansos.
Um após outro, a bambolear,
Passam, caminho dágua, os gansos.
Vão atentos, como a cismar…

No verde, à beira das estradas,
Maliciosas em tentação,
Riem amoras orvalhadas.
Colhe-as: basta estender a mão.

Ah! fosse tudo assim na vida!
Sus, não cedas à vã fraqueza.
Que adianta a queixa repetida?
Goza o painel da natureza.

Cria, e terás com que exaltar-te
No mais nobre e maior prazer.
A afeiçoar teu sonho de arte.
Sentir-te-ás convalescer.

A arte é uma fada que transmuta
E transfigura o mau destino.
Prova. Olha. Toca. Cheira. Escuta.
Cada sentido é um dom divino.

Manuel Bandeira, do livro “A cinza das horas”, 1917.

Um comentário:

Henrique Rodrigues Soares disse...

Obrigado, são mensagens assim que faz com que possamos manter o blog.

Sinta-se a vontade na viagem dos versos.

Saudações.

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