Cantiga de lavadeira
















Libertos de trouxa tremem
as calça e os paletós.
Doem na pedra pano e carne
sem anotações no rol.

Canto azul da lavadeira
lavado na ventania.
Mistura de corpos gastos,
de sabão, espuma e anil.

O suor da blusa operária
(chora o lenço de Maria).
Transita o amor pela anágua,
geme o lençol da agonia.

O sonho dorme na fronha,
a camisa precordial,
nódoas da fome da criança
na toalha da mesa oval.

Nas água têxteis do rio,
há sabor de sangue e sal.


Mauro Mota

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