O que tu chamas tua paixão,
É tão somente curiosidade.
E os teus desejos ferventes vão
Batendo as asas na irrealidade…
Curiosidade sentimental
Do seu aroma, da sua pele.
Sonhas um ventre de alvura tal,
Que escuro o linho fique ao pé dele.
Dentre os perfumes sutis que vêm
Das suas charpas, dos seus vestidos,
Isolar tentas o odor que tem
A trama rara dos seus tecidos.
Encanto a encanto, toda a prevês.
Afagos longos, carinhos sábios,
Carícias lentas, de uma maciez
Que se diriam feitas por lábios…
Tu te perguntas, curioso, quais
Serão seus gestos, balbuciamento,
Quando descerdes nas espirais
Deslumbradoras do esquecimento…
E acima disso, buscas saber
Os seus instintos, suas tendências…
Espiar-lhe na alma por conhecer
O que há sincero nas aparências.
E os teus desejos ferventes vão
Batendo as asas na irrealidade…
O que tu chamas tua paixão
É tão-somente curiosidade.
Manuel Bandeira
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