Barreirinha

















De repente, pai, entre
o silêncio de duas ondas,
ouvimos a única pergunta:

quantas vezes
ainda nadaremos juntos?



Manuel de Freitas - in Boa Morte, edição de autor, 2008

Fragmentos - 5















Sei o puldo das palavras a sirene das palavras
Não as que se aplaudem do alto dos teatros
Mas as que arrancam caixões da treva
e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro
Às vezes as relegam inauditas inéditas
Mas a palavra galopa com a cilha tensa
ressoa os séculos e os trens rastejam
para lamber as mãos calosas da poesia
Sei o pulso das palavras parecem fumaça
Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.



Vladimir Maiakovski

Velha chácara
















A casa era por aqui…
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinquenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida… nos desenganos…)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa…
– Mas o menino ainda existe.



Manuel Bandeira

Resistir

















Dobrar na boca o frio da espora 
Calcar o passo sobre lume 
Abrir o pão a golpes de machado 
Soltar pelo flanco os cavalos do espanto 
Fazer do corpo um barco e navegar a pedra 
Regressar devagar ao corpo morno 
Beber um outro vinho pisado por um astro 

Possuir o fogo ruivo sob a própria casa 
numa chama de flechas ao redor. 



Joaquim Pessoa, in "Paiol de Pólen"

Difícil ser Funcionário











Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.

Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.

É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.

Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.

Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.

E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.

Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança

Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar…
Fazer seu nojo meu…



João Cabral de Melo Neto

Respeito
















Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.


Manoel de Barros

Versos soco de um amigo

















O tempo, esse pequeno escultor,
prolongou-te os gestos
até à exaustão, ao limite do escárnio,
ao inoportuno reclame daquele
que vai morrer e não morre
e fala demasiado sobre o silêncio do seu grito.

Paciência. Não poderia ter sido de outra
maneira. Há uma infância parada,
onde o cadáver de deus
nada quer dizer. Sim, tem chovido muito.
Mas que saberá destas mesmas horas
o gato negro que a tua mão já não encontra?

Deténs-te, usas palavras vãs, despedes-te.
Sabes que foi sempre assim.


Manuel de Freitas

O impossível carinho














Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor_
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!



Manuel Bandeira

Coqueiral













A saudade é um batimento que rebenta assim
vinte e oito vezes desde meu ombro tatuado
de desastre até à rosa pendurada em sua boca

E o amor, neste caso específico, é um mergulho
destemido que deriva quase sempre de uma nota
climática apenas para convergir no osso frontal
do crânio do rei da ilusão – terno é o seu rosto


Senhor, os ossinhos do mundo são de mel e ouro.


Matilde Campilho

Declaração de bens de família
























Cadeiras e sofás, consolo e jarra,
camas e bules, redes e bacias,
a caixa de charão, o guarda-louça,
tetéias, mesa, aparador, fruteira,

a cesta de costura, o papagaio,
a cafeteira, o cromo da parede,
o jogo de gamão, as urupemas,
o álbum, o espelho, o candeeiro belga,

alguidares, baús de roupa, esteiras
de pipiri, a tábua do engomado,
pilão de milho, o tempo do relógio,

quartilhas, almanaques, tamboretes,
o santo da família, a lamparina,
o carneiro de Belém e o seu balido.

Mauro Mota - De Itinerário, 1975

A Hora














A porta do tempo é opaca,
mas menino a viu entreaberta.
Foi espiar.
“- Mãe, cada minuto é feito de sessenta borboletas coloridas
Que voam depressa pra todo lugar.”
A mãe sorriu.
“- E qual a estrutura da hora, filho?”
“- A hora, mãe, é quando a matemática das borboletas se junta
E elas seguram as asas umas das outras,
cirandadas,
Como se fosse a humanidade inteira… “
A humanidade inteira,
Essa é a hora.

Nara Rúbia Ribeiro, do livro “Não Borboletarás”, Editora Kelps, 2013.

Fábula de Arquiteto
























A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até fechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.



João Cabral de Melo Neto

Visita




















O poeta esteve aqui
Disse-me que viu sorrir
Meus olhos em suas
mãos...
Como mente este
poeta
Com suas lentes
discretas
Perdeu a sua razão;
Pois ele viu verter
lágrimas
Dos músculos do coração!


Severino Honorato

Poética


















Alguma palavra,
este cavalo que me vestia como um cetro,
algum vômito tardio modela o verso.
Certa forma se conhece nas infinitas,
a fauna guerreira, a lua fria
encrustada na fria atenção.
Onde era nuvem
sabemos a geometria da alma, a vontade
consumida em pó e devaneio.
E recuamos sempre, petrificados,
com a metafísica
nos dentes: o feto
fixado
entre a náusea e o lençol.
Meu poema me contempla horrorizado.


Cacaso - Rio, 1965
Publicado no livro “A palavra cerzida”, de 1967)

Satélite














Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados.
Mas tão-somente
Satélite.
Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
– Satélite.



Manuel Bandeira

Morte e Vida Severina
















— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.


João Cabral de Melo Neto

Maçã



















Por um lado te vejo como um seio murcho
Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário
És vermelha como o amor divino.

Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente

E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel.



Manuel Bandeira

Ou Isto ou Aquilo
























Ou se tem chuva e não se tem sol 
ou se tem sol e não se tem chuva! 

Ou se calça a luva e não se põe o anel, 
ou se põe o anel e não se calça a luva! 

Quem sobe nos ares não fica no chão, 
quem fica no chão não sobe nos ares. 

É uma grande pena que não se possa 
estar ao mesmo tempo em dois lugares! 

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, 
ou compro o doce e gasto o dinheiro. 

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . . 
e vivo escolhendo o dia inteiro! 

Não sei se brinco, não sei se estudo, 
se saio correndo ou fico tranqüilo. 

Mas não consegui entender ainda 
qual é melhor: se é isto ou aquilo.


Cecília Meireles

O Girassol



















Sempre que o sol 
Pinta de anil 
Todo o céu 
O girassol 
Fica um gentil 
Carrossel. 

O girassol é o carrossel das abelhas. 

Pretas e vermelhas 
Ali ficam elas 
Brincando, fedelhas 
Nas pétalas amarelas. 

— Vamos brincar de carrossel, pessoal? 

— "Roda, roda, carrossel 
Roda, roda, rodador 
Vai rodando, dando mel 
Vai rodando, dando flor". 

— Marimbondo não pode ir que é bicho mau! 
— Besouro é muito pesado! 
— Borboleta tem que fingir de borboleta na 
entrada! 
— Dona Cigarra fica tocando seu realejo! 

— "Roda, roda, carrossel 
Gira, gira, girassol 
Redondinho como o céu 
Marelinho como o sol". 

E o girassol vai girando dia afora . . . 

O girassol é o carrossel das abelhas.


Vinícius de Moraes

Convite














Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.

Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.

As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.

Como a água do rio
que é água sempre nova.

Como cada dia
que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?


José Paulo Paes

Quando as crianças brincam




















Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.

E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.



Fernando Pessoa  - 5-9-1933

Pular corda


















Se pudesse o menino pularia
corda
com a linha do horizonte,
se deitaria sobre a curvatura
da Terra
para sempre e sempre
saudar o sol,
encheria os bolsos
de terra e girassóis.
Mas chove uma chuva
fina

e o menino vai até a cozinha
fritar ideias


Roseana Murray


O Menino Azul























O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
– de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)


 Cecília Meireles

Ao jardim, o mundo












Ao jardim, o mundo, renovado em ascensão,
Parceiros potentes, filhas, filhos, em prelúdio,
O amor, a vida de seus corpos, ser e sentido,
Curioso, contemple aqui minha ressurreição, após o sono;
Os ciclos em revolução, em seu amplo movimento, aqui me trouxeram outra vez,
Amoroso, maduro – tudo belo para mim – tudo maravilhoso;
Meus membros, e o fogo trêmulo que folga neles, pelos mais maravilhosos motivos;
Existindo, eu perscruto e penetro ainda,
Contente com o presente – contente com o passado,
Ao meu lado, ou atrás de mim, Eva me seguindo,
Ou à frente, e eu a segui-la do mesmo jeito.


To the Garden the World

To the garden, the world, anew ascending,
Potent mates, daughters, sons, preluding,
The love, the life of their bodies, meaning and being,
Curious, here behold my resurrection, after slumber;
The revolving cycles, in their wide sweep, have brought me again,
Amorous, mature—all beautiful to me—all wondrous;
My limbs, and the quivering fire that ever plays through them, for reasons, most wondrous;
Existing, I peer and penetrate still,
Content with the present—content with the past,
By my side, or back of me, Eve following,
Or in front, and I following her just the same.


Walt Whitman

Mercado Central














Cheiro de cravo que de menina trago
meu pai me leva pela mão entre vozes e verduras
a paisagem profusa e pulsante do mercado me
encanta
brinco com as formas que vejo sob camapus
maduros: fruto e tecido,
joia imaginária que reincorporo na boca
- delicioso exercício de existir,
atávica lembrança de enfeitar-se.
Meu pai comprando maxixe, sapotis e carambolas.
Travessa, surpreendo-me na banca de temperos
onde as, mulheres se confundem com alimento.
Eu entro elas - me ouvindo.


Lenita Estrela de Sá

Uma Faca só Lâmina













Assim como uma bala
enterrada no corpo,
fazendo mais espesso
um dos lados do morto;

assim como uma bala
do chumbo mais pesado,
no músculo de um homem
pesando-o mais de um lado;

qual bala que tivesse um
vivo mecanismo,
bala que possuísse
um coração ativo

igual ao de um relógio
submerso em algum corpo,
ao de um relógio vivo
e também revoltoso,

relógio que tivesse
o gume de uma faca
e toda a impiedade
de lâmina azulada;

assim como uma faca
que sem bolso ou bainha
se transformasse em parte
de vossa anatomia;

qual uma faca íntima
ou faca de uso interno,
habitando num corpo
como o próprio esqueleto

de um homem que o tivesse,
e sempre, doloroso
de homem que se ferisse
contra seus próprios ossos.


João Cabral de Melo Neto

Poemeto Irônico

















O que tu chamas tua paixão,
É tão somente curiosidade.
E os teus desejos ferventes vão
Batendo as asas na irrealidade…

Curiosidade sentimental
Do seu aroma, da sua pele.
Sonhas um ventre de alvura tal,
Que escuro o linho fique ao pé dele.

Dentre os perfumes sutis que vêm
Das suas charpas, dos seus vestidos,
Isolar tentas o odor que tem
A trama rara dos seus tecidos.

Encanto a encanto, toda a prevês.
Afagos longos, carinhos sábios,
Carícias lentas, de uma maciez
Que se diriam feitas por lábios…

Tu te perguntas, curioso, quais
Serão seus gestos, balbuciamento,
Quando descerdes nas espirais
Deslumbradoras do esquecimento…

E acima disso, buscas saber
Os seus instintos, suas tendências…
Espiar-lhe na alma por conhecer
O que há sincero nas aparências.

E os teus desejos ferventes vão
Batendo as asas na irrealidade…
O que tu chamas tua paixão
É tão-somente curiosidade.



Manuel Bandeira

A pedidos















Querem um verso,
mas não sou capaz.
Vejo a palavra fraturar
as entrelinhas,
tento soldá-las,
mas não são minhas.
Rompeu-se o verbo
e me deixou pra trás.


Flora Figueiredo

Fragmentos - 4
















Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo.


Vladimir Maiakovski

Meus olhos estão cansados de morrer














Meus olhos
estão cansados
de morrer.

E morrem abertos
anestesiados de um ai profundo.

Eles sabem
que no fundo de cada alma
há sempre um abismo novo
que compete com o abismo do outro,
e que, somados,
são o abismo de um povo.

Meus olhos sentem
as farpas,
as farsas,
as fissuras
da estrutura dos mundos.

Eles se banham silentes,
face a indiferença de muitos.
Mas morrem de pé
como quem se recusa a quedar-se.

Morrem eretos,
como quem
nem mesmo ante a morte se curva.
Pois sabem enxergar o sol
nas profundezas mais turvas.

Nara Rúbia Ribeiro

Promessa de uma noite
















cruzo as mãos
sobre as montanhas
um rio esvai-se

ao fogo do gesto
que inflamo

a lua eleva-se
na tua fronte
enquanto tacteias a pedra
até ser flor

Mia Couto - No livro “Raiz de orvalho e outros poema”

O Tempo seca o Amor

O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a ...

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