Sociedade dos Eremitas

Foto Antônio Carlos Januário

















Sou uma pétala num jardim
sou uma gota d'água no mar
sou um grão de areia na praia
sou tão pequeno... Tão frágil
e tão soberbo
que às vezes
audaciosos como somos
julgamos ao mundo e a Deus.

Nos achamos um petardo, uma bomba nuclear
nossas línguas afiadas destruindo a tudo e a todos.
A língua!
A ponte? Ou a destruição da amizade?

E a raça humana, superior aos outros seres vivos
não consegue viver sem o ser morto, sem o menor molusco
mas mesmo assim, nos achamos poderosos, sábios, deuses
e não entendemos a nós mesmos.
Nos enganamos na ânsia de esconder o medo, a angústia
humana de viver só
pois o homem vive só...
só ele que não sabe
-Por favor, não diga para ele.

Estamos cercados de pessoas
e as pisamos como pedras que ficam ao caminho.
Fingimos não vê-las ou não vemos
pois nosso orgulho cegou nossos olhos.

Então me pergunto,
até que dia
o homem vai acreditar
que ele é social?



Henrique Rodrigues Soares - Poesia de abertura do livro Sociedade dos Eremitas 1990/1996

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