Eu tenho um corpo
feito de barro vil
mas cheio de deveres
e obediência civil.
Sou um transeunte
em dia com o código
da ética pedestre.
Não raro invento dívidas
só pelo prazer
de saldá-las, lesto,
antes do protesto.
Para depois entrar
entre os festões vermelhos,
num salão de baile
cumprimentando-me cordialmente
Exato no meu fato
azul, sob medida;
exato na cesura
de um verso alexandrino;
exato se combino
um encontro de dois,
pois chego à hora certa,
nem antes nem depois.
Exato — se procuro
te beijar no escuro
não erro a tua boca
entre os pontos cardiais
de minha geografia
amorosa;
enfim, sou tão exato
como é o número
do meu sapato.
Sofro, também, de ordem.
Da irrecorrível ordem
que aceitei por herança.
Em vão as vespas
da revolução me mordem.
Minha geometria
é uma coisa viva
feita de carne e osso.
Um ângulo quebrado
logo escorre sangue.
Todo o meu futuro
é um retângulo obscuro...
Estes meus dois braços
são linhas paralelas
que se cruzarão em viagem
para algum infinito.
A lua, esfera fria,
me ensinou, em garoto,
a riscar bolas de ouro,
sem compasso,
na aula de geometria.
Ah, eu sofro de ordem,
mas em vão;
pois não ganhei, com isso,
nenhum laurel, comenda,
ou condecoração.
E nem pertenço à Ordem
do Cruzeiro.
Pertenço — e é só — à ordem
em que estão colocadas,
no céu, as estrelas.
E à outra ordem —
a em que, no futuro,
estarão colocadas,
em redor do meu corpo,
quatro velas acesas...
feito de barro vil
mas cheio de deveres
e obediência civil.
Sou um transeunte
em dia com o código
da ética pedestre.
Não raro invento dívidas
só pelo prazer
de saldá-las, lesto,
antes do protesto.
Para depois entrar
entre os festões vermelhos,
num salão de baile
cumprimentando-me cordialmente
Exato no meu fato
azul, sob medida;
exato na cesura
de um verso alexandrino;
exato se combino
um encontro de dois,
pois chego à hora certa,
nem antes nem depois.
Exato — se procuro
te beijar no escuro
não erro a tua boca
entre os pontos cardiais
de minha geografia
amorosa;
enfim, sou tão exato
como é o número
do meu sapato.
Sofro, também, de ordem.
Da irrecorrível ordem
que aceitei por herança.
Em vão as vespas
da revolução me mordem.
Minha geometria
é uma coisa viva
feita de carne e osso.
Um ângulo quebrado
logo escorre sangue.
Todo o meu futuro
é um retângulo obscuro...
Estes meus dois braços
são linhas paralelas
que se cruzarão em viagem
para algum infinito.
A lua, esfera fria,
me ensinou, em garoto,
a riscar bolas de ouro,
sem compasso,
na aula de geometria.
Ah, eu sofro de ordem,
mas em vão;
pois não ganhei, com isso,
nenhum laurel, comenda,
ou condecoração.
E nem pertenço à Ordem
do Cruzeiro.
Pertenço — e é só — à ordem
em que estão colocadas,
no céu, as estrelas.
E à outra ordem —
a em que, no futuro,
estarão colocadas,
em redor do meu corpo,
quatro velas acesas...
Cassiano Ricardo
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