Retrato do poeta quando jovem
Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.
Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.
Há um nascer do sol no sítio exato,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.
Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.
José Saramago
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O Tempo seca o Amor
O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a ...
Nos últimos 30 dias.
-
O ventre e os braços da mãe, o berço, a casa, a escola, o pátio, o ônibus, o escritório, a mulher e o sono. Mauro ...
-
Há você Um espaço Para os passos E uma porta Não é por que É uma porta Que você tem que Abri-la Liberdade...
-
Seus olhos acesos seus ouvidos como cães que guardam a noite ele dirige o ônibus O ronco do motor os outros carros...
-
São uns olhos verdes, verdes, Uns olhos de verde-mar, Quando o tempo vai bonança; Uns olhos cor de esperança, U...
-
A chuva, outra vez a chuva sobre as oliveiras. Não sei por que voltou esta tarde se minha mãe já se foi ...
-
Arquitetos adotam a transparência como regra e matéria-prima cobrem as cidades com casas de vidro quase tudo...
-
Pousa neste leito palavras inúteis e nunca ditas. Pousa neste leito espíritos cansados e desinteressados...
-
Estas e muitas outras coisas, certo, eu julgava sentir, quando sentia que, descuidado e plácido, dormia num infern...
-
Passava a lua pelo azul do espaço De teu regaço A namorar o alvor! Como era tema no seu brando lume... Tive ciúm...
-
Eu amava Como amava algum cantor De qualquer clichê De cabaré, de lua e flor Eu sonhava como a feia Na vitri...
Nenhum comentário:
Postar um comentário