Soneto





















Voltada sobre o pano, a moça borda
a infância e seus jardins, os dias claros,
as despedidas na ponte dos poentes,
a magia da noite, os seus cavalos.


Como evitar a morte, a mão que borda,
ao sereno lençol que, nu, aguarda
a forma de seu sonho, humilde, indaga,
senão amando e se tornando amada?


O fio compõe a lenda, sobre o linho,
do capim trescalante e o rio da tarde
que banhava a colina e os dois amantes.


Mas, por saber no amor eternizado
o que a morte vencer não pode mais,
a mão desfaz os pontos já bordados.


Alberto da Costa e Silva

Nenhum comentário:

O Tempo seca o Amor

O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a ...

Nos últimos 30 dias.