Escritura
















Quando sobre o papel a pena escreve,
a qualquer hora solitária,
quem a guia?
A quem escreve o que escreve por mim,
margem feita de lábios e de sonho,
colina quieta, golfo,
ombro para esquecer o mundo para sempre?

Alguém escreve em mim, move-me a mão,
escolhe uma palavra, se detém,
pende entre mar azul e monte verde.
Com um ardor gelado
contempla o que escrevo.
A tudo queima, fogo justiceiro.
Mas o juiz também é justiçado
e ao condenar-me se condena:
não escreve a ninguém, a ninguém chama,
escreve-se a si mesmo, em si se esquece,
e se resgata, e volta a ser eu mesmo.

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Escritura
Cuando sobre el papel la pluma escribe,
a cualquier hora solitaria,
¿quién la guía?
¿A quién escribe el que escribe por mí,
orilla hecha de labios y de sueño,
quieta colina, golfo,
hombro para olvidar el mundo para siempre?

Alguien escribe en mí, mueve mi mano,
escoge una palabra, se detiene,
duda entre el mar azul y el monte verde.
Con un ardor helado
contempla lo que escribo.
Todo lo quema, fuego justiciero.
Pero este juez también es víctima
y al condenarme, se condena:
no escribe a nadie, en sí se olvida,
y se rescata, y vuelve a ser yo mismo.


Octavio Paz

em “Transblanco: em Torno a Blanco de Octavio Paz”. [tradução Haroldo de Campos]. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

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