Soneto para calendário

















Eis a boca de dentes escancarada
Não sorrindo, aberta, esperando a vida
Como se preciso fosse esperar o nada
Como se possível fosse dispensar a lida

Vem o vento, sopra minha porção alada
E eu escrevo versos como quem duvida
Gero feito ainda estivesse grávida
Tendo ossos duros, pera calcinada

Neste chão que planto frutas que consumo
Nem me saberei qual gosto ainda tenho
Já que todo tédio é feito dessa pressa

Todos gritam, ouço: o amor é póstumo!
E a minha língua é lápis que desenho
A vida com que sonho, enquanto perco essa

Na carnificina de todo dia útil.
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Adriane Garcia

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