Velut Umbra

















Vivo sempre a seguir-te em toda a parte
A todo o tempo, a todo o transe e em tudo;
E tanto mais me esforço em procurar-te
Mais de te conseguir me desiludo.


Busca-te o meu ideal num sonho de arte;
E sem te ouvir, nem te falar, contudo
Eu não me canso em vão de desejar-te,
Cego para te ver e, ao ver-te, mudo...


Vendo-te ou não, o meu olhar divaga
Sempre a seguir-te; e as vezes que te vejo,
Como que te diluis, visão pressaga!


Quando te encontro, num fortuito ensejo,
Sinto que és uma sombra que se apaga
Ao sol crepuscular do meu desejo.


Da Costa e Silva

Atitude
















Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.


O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.


Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.


E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes
Encomenda

Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.


Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.


Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.


Cecília Meireles

Rotação
















a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
de novo a esperança
na esfera


a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
uma nova esperança
na esfera
a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera


a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
uma nova esperança
na esfera


Cassiano Ricardo

Engano

















Eu te percebo em vôo errante e vago,
cortejas flores, rondas os canteiros.
Perdido em cores, bebes, trago a trago,
orvalho e néctar, vãos e derradeiros.


Beijas a rosa, no cravo um afago...
Mas teus carinhos não são verdadeiros.
Teu rastro fala de dor e de estrago,
dos sonhos mortos... Todos passageiros!


Teus passos são volúveis, causam dano,
motivam pranto, angústia, desengano,
desfolhas vidas, sem pena, sem dó.


Tanta aridez... O que é do meu jardim?
Eu me pergunto, o que será de mim...
Assim tão triste, machucada e só!


Patricia Neme

Anseios

















Que sou eu, neste ergástulo das vidas
Danadamente, a soluçar de dor?!
— Trinta triliões de células vencidas,
Nutrindo uma efeméride inferior.


Branda, entanto, a afagar tantas feridas,
A áurea mão taumitúrgica do Amor
Traça, nas minhas formas carcomidas,
A estrutura de um mundo superior!


Alta noite, esse mundo incoerente
Essa elementaríssima semente
Do que hei de ser, tenta transpor o Ideal...


Grita em meu grito, alarga-se em meu hausto,
E, ai! como eu sinto no esqueleto exausto
Não poder dar-lhe vida material!


Augusto dos Anjos

Amor e crença


















Sabes que é Deus?! Esse infinito e santo
Ser que preside e rege os outros seres,
Que os encantos e a força dos poderes
Reúne tudo em si, num só encanto?


Esse mistério eterno e sacrossanto,
Essa sublime adoração do crente,
Esse manto de amor doce e clemente
Que lava as dores e que enxuga o pranto?!


Ah! Se queres saber a sua grandeza,
Estende o teu olhar à Natureza,
Fita a cúp’la do Céu santa e infinita!


Deus é o templo do Bem. Na altura Imensa,
O amor é a hóstia que bendiz a Crença,
ama, pois, crê em Deus, e... sê bendita!


Augusto dos Anjos

Confissão de Pai para Filho





















Filho, abro a janela para o amanhã
e não há nisso um vestígio de esperança.


Aceito a imposição de um novo dia
enquanto aguardo a hora do pão fresco.


Vivo intensamente o nada de em seguida
como um centauro ultrapassando o mito.


O que faço não marca o acontecimento,
senão o fechamento nulíparolunar
das portas dos dias das horas do tempo.


Sento-me à mesa e repito com a fome
o golpe traiçoeiro da abastança.


Filho, abro o jornal e devoro uma notícia
que custou um sangue anônimo qualquer.


Eu não quero ser cúmplice do mundo.
Vou ao trabalho ou não vou,
ponho a gravata ou não ponho.


Afinal eu sou o que não muda o curso
de nada segundo a minha preferência.


Qualquer alternativa é uma imposição
do agora ilhado no tempo.


O passado foi e o futuro é na cozinha
onde a carne está sendo retalhada...


Enquanto isso, $uborno com produtos
importados a viciada alfândega do coração,
malgrado os impostos escorchantes
devidos à amável consciência...


Afonso Estebanez

Livro das Horas
















Aqui diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.


Me confesso
possesso
das virtudes teologais,
que são três,


e dos pecados mortais,
que são sete,
quando a terra não repete
que são mais.


Me confesso
o dono das minhas horas
O dos facadas cegas e raivosas,
e o das ternuras lúcidas e mansas.


E de ser de qualquer modo
andanças
do mesmo todo.


Me confesso de ser charco
e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
que atira setas acima
e abaixo da minha altura.


Me confesso de ser tudo
que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.


Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
do tal céu que Deus governa;
de ser um monstro saído
do buraco mais fundo da caverna.


Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!


Miguel Torga

As Palavras Interditas

















Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.


Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.


Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E abrem-se janelas
mostrando a brancura das cortinas.


As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.


Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.


E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens vivas, desenhadas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.


Eugênio de Andrade

Mar alto

















Que hei de fazer, se não me encontro,
se há tanto tempo estou perdido?
É o mar, meu pai: é o mar! E o mar está crescendo.
O mar é fundo, o mar é frio.


Meu pai, que silêncio,
que grave silêncio!
Por que não sorris?


Meu pai, estou perdido:
há tantos caminhos
no fundo do mar.
Como hei de voltar?


Emilio Moura

Noites




















Em todo entardecer escuto passos,
na estrada que se achega ao meu portão;
embora haja penumbra, vejo os traços
dos andarilhos... Deus! E quantos são!


Na casa, se assenhoram dos espaços,
percorrem cada palmo do meu chão.
Semblantes - de ventura tão escassos,
contemplam-me... E na dor me envolvo, então.


Porque nos olhos meigos dos meus sonhos,
o amor sulcou caminhos tão tristonhos,
onde apenas saudade floresceu!


À noite, em rito insano de agonia,
unidos, sonhos, eu... e a nostalgia...
Ninamos o que nos restou de teu.


Patricia Neme

Acrobata da dor





















Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.


Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...


Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço. . .


E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.


Cruz e Souza

Entre o Ter e o Ser


















O universo repõe-se
em engrenagens ocultas,
sensitivas, sobre um mar indecifrável
que se arrasta em destinos


Hoje sou apenas brisa
que abriga a noite,
absorta na transparência
que toca o ar
de um crepúsculo irrevogável


Sou o elo entre a liberdade
e lembranças do que fomos,
utopizando as faces do tempo,
eternizado na fronteira do infinito


Conceição Bentes

Young Flu - Uma Paixão em Torcida - Parabéns 40 ANOS
















Os teus guerreiros marcham pela pista.
Vitórias e adversidades, nosso ritmo, punho colado.
As tuas concentrações
com teus cantos de paixão
e teu alarido de guerra.


O mar branco na arquibancada predomina.
O Flu me domina...
As camisas que parecem couraças ou peles.
As nossas cores abrilhantam qualquer estádio.
Gritamos Young Flu até morrer!


Meu coração é envolvido
com a batida da nossa bateria
que incendeia minhas veias.
Meus olhos transbordam
diante de nossas bandeiras.
Estandartes de uma comunhão,
Fluminense e sua torcida.


"Quem fala de nós não sabe o que diz"
Armando,o que fizeste conosco
quando ajuntaste este povo
e criaste esta paixão.


Henrique Rodrigues Soares
40 anos de paixão. Obrigado Armando Giesta,

Dia comum




















Se esvai o dia comum
nada especial aconteceu
tenho as mesmas cicatrizes,
sobrou um sorriso cansado,
um distante abraço,
uma alma junto à minha.


O dia irá amanhecer,
o sol haverá de inundar a vida
para dizer que ainda não morri,
que sou como a maré,
sempre voltando e voltando.


Acorda-me um rufar de asas no telhado,
a intraduzivel conversa das pombas,
quando arrulham aos pares nas manhãs,
tecendo o tempo, os dias e as horas.


Entra o dia pela janela sem persiana,
preciso aprender alguma canção,
quebrar o silêncio e não adormecer,
é este perene cotidiano,
que me traz de volta pela mão...


Sônia Schmorantz

Momento



















Oh! A resignação das coisas paradas,
grávidas de silencio, reverentes,
em sua geometria sem jactância!


A placidez das ruas acolchoadas
contra a dura cintilação do dia;
o recato das arvores, a prece
das esquadrias de alumínio ionizado
na fachada do edifício em frente!


Todas as coisas – em clausura – cumprem votos,
enquanto a vã filosofia do século
pensa que move o mundo.


Hélio Pellegrino

Aqueles que sonham




















onde colocam a esperança
onde perderam suas florestas
antes nunca habitadas

. . . nasceram com deuses e os cultivam em seus jardins.
não se nutrem de uma ciência cega.
suas praias dormem o sono morno das paisagens ao poente.
não sujam suas mãos com sombras falsas.
lêem a leitura das danças honestas.
são eternos aprendizes do amor.
não se assustam da obscuridade das horas inexatas.
não se impacientam com as noites silenciosas e extáticas.
possuem mascaras de luas, sois e estrelas.
não se limitam a horizontes incolores ou a versos sem humanidade.
subemtem-se a desembrulhar emoções matizadas de valores
gastos ou não.
sangram, quando chega tarde demais o amor,
ou, suas raízes não as adubam nunca.
despem-se da petrificação dos dias iguais.

Aqueles que sonham
amam demais e exigem demais
do amor, da vida e da morte.

Oh, aqueles que sonham. . .
são poetas a contradizerem-se.


Alvina Nunes Tzovenos

Alma Perdida

















Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!


Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a, a alma doente
D'alguém que quis amar e nunca amou!


Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!


Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh`alma
Que chorasse perdida em tua voz!...


Florbela Espanca

No Campo




















Aproveita os nós desatados
o silêncio das águas perdidas
as fendas nas montanhas
aproveita as violetas entrecortadas
de desejo
os sinos soltos pela chuva
como sonhos desencantados
aproveita as caravelas invisíveis
assombrando as noites
os pios das corujas solitárias
aproveita os caminhos recém-abertos
por cogumelos escarlates
aproveita as rendas dos luares
de agosto
os rostos pontuando as sombras
aproveita os cavalos engravidando a terra
aproveita o peso escuro da terra
e tece teu poema


Roseana Murray

Não me peçam razões...















Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.


Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.


Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.


José Saramago

Romaria de Esperança
















Sonhos são pássaros que emigram
entre mitos de esperas e liberdade
numa romaria infinita ao encontro
marcado da memória despertada...
... para o cumprimento do instinto
de não necessitar nunca de nada...


Eles dormem acordados como faroleiros
que sabem pela velha cartilha das estrelas
a hora de desancorar do céu seu novo dia
já despertado na restinga da alvorada.


Sonhos às vezes são notícias postadas pela brisa
que desperta com as mãos aquecidas de ternura.
Às vezes são regatos chorando sem sofrimento,
pois não há dor quando a espera sempre alcança.


Mas há sensações de eternidade onde nenhuma
pétala desfolha de sua flor sem que o consinta
o vento passageiro dos arrulhos da esperança.


Não há presságios nem maus pressentimentos
onde os sonhos são pássaros
que emigram na lembrança...


Afonso Estebanez

Nelson Rodrigues e Fluminense















"Pode-se identificar um Tricolor entre milhares, entre milhões. Ele se destingue dos demais por uma irradiação específica e deslumbradora."


"Se quereis saber o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado. A história tricolor traduz a predestinação para a glória".


"Eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. E podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos"


"Uma torcida não vale a pena pela sua expressão numérica. Ela vive e influi no destino das batalhas pela força do sentimento. E a torcida tricolor leva um imperecível estandarte de paixão."


"Ser tricolor não é uma questão de gosto ou opção, mas um acontecimento de fundo metafísico, um arranjo cósmico ao qual não se pode - e nem se deseja - fugir."


"Se o Fluminense jogasse no céu, eu morreria para vê-lo jogar"


"O FLUMINENSE nasceu com a vocação da eternidade...tudo pode passar...só o TRICOLOR não passará jamais."


“O Flamengo tem mais torcida, o Fluminense tem mais gente!”


“Nada, porém, é tão impressionante quanto o pé-rapado tricolor. Amigos, o Fluminense, com toda a sua aristocracia, tem uma plebe que eu chamaria de épica.’


Nelson Rodrigues

O show está começando
















Um caso de Amor
Hoje vou deixar de poetizar, para falar de uma torcida que é sinônimo de poesia. No dia 03 de dezembro de 09, por volta das 18h00min horas uma paixão incontrolável tomou as ruas da Cidade do Rio de Janeiro.
Um sentimento que ensinou a muitos o verdadeiro valor de torcer, não torcer só por títulos, mas sim por uma paixão que não pode ser controlada, torcer por uma fidelidade prometida sem esperar retorno, torcer por uma intimidade entre um time de guerreiros e seu povo que dependem de sua sorte.
Muitas vezes as vitórias escondem nossas fragilidades, mas diante das derrotas que nos vemos face a face.
O Fluminense e sua torcida puderam olhar um dentro dos olhos do outro e ver toda uma sinceridade que contagiou até os seus mais arqui-rivais. O Fluminense e sua torcida misturados para sempre.
Festas por festas de tantas tão belas, para um clube com tantas conquistas esta foi apenas mais uma, porém diante de um ano que este grande clube se viu tão perto do abismo, sua legião de torcedores cantando num alarido de guerra sem olhar para obstáculos, confiando numa esperança remota, se agarrando a uma fé de sangue encarnado, sem vergonha de se mostrar para todos que este amor por mais que seja desmedido nunca acabará.
Como diz a bela música “Meu coração acelera, quando vejo o Maraca cantar, Fluminense escuta teu povo que veio te apoiar”
Hoje posso dizer muito mais do que ontem, me orgulho de vestir esta camisa, me orgulho desta torcida, que pode não ser a maior, mas o seu amor está bem acima do que pode ser medido.

Saudações Tricolores!
Henrique Rodrigues Soares

Ser Fluminense

















Ser Fluminense é entender esporte como bom gosto. É ser leal sem ser boboca e ser limpo sem ser ingênuo. Ser Fluminense é aplicar o senso estético à vida e misturar as cores de modo certo, dosar a largura do grená, a profundidade do verde com as planuras do branco.

Ser Fluminense é saber pensar ao lado de sentir e emocionar-se com dignidade e discrição. É guardar modéstia, a disfarçar decisão, vontade e determinação. É calar o orgulho sem o perder. É reconhecer a qualidade alheia, aprimorando-se até suplantá-la.

Ser Fluminense não é ser melhor mas ser certo. Não é vencer a qualquer preço mas vencer-se primeiro para ser vitorioso depois. É não perder a capacidade de admirar e de (se) colocar metas sempre mais altas, aprimorando-se na busca! E jamais perder a esperança até o minuto final.

Ser Fluminense é gostar de talento, honradez, equilíbrio, limpeza, poesia trabalho, paz, construção, justiça, criatividade, coragem serena e serenidade decidida.

Ser Fluminense é rejeitar abuso, humilhação, manha, soslaio, sorrateiros, desleais, temerosos, pretensão, soberba, tocaia, solércia, arrogância, suborno ou hipocrisia. É pelejar, tentar, ousar, crescer, descobrir-se, viver, saber, vislumbrar, ter curiosidade e construir.

Ser Fluminense é unir caráter com decisão, sentimento com ação, razão com justiça, vontade com sonho, percepção com fé, agudeza com profundidade, alegria com ser, fazer com construir, esperar com obter. É ter os olhos limpos, sem despeito, e claro como a esperança.

Ser Fluminense, enfim, é descobrir o melhor de cada um, para reparti-lo com os demais e saber a cada dia, amanhecer melhor, feliz pelo milagre da vida como prodígio de compreensão e trabalho, para construir o mundo de todos e de cada um, mundo no qual tremulará a bandeira tricolor.


Artur da Távola

Lutando para sobreviver

















Sobre Fluminense

"Para ser um gigante, não fazem falta títulos mirabolantes, equipes inesquecíveis ou milhões de fanáticos torcedores. O Fluminense tem tudo isso, como de resto quase todos os grandes clubes mundo afora. Não é isso que torna o Tricolor diferente dos demais. Para ser um gigante é preciso mostrar valor diante do inimigo invencível e face ao mais profundo dos abismos. Por duas vezes, ao longo de seu primeiro centenário, o Fluminense esteve à beira da aniquilação – e sobreviveu. Foi com tal fidalguia que o clube das três cores que traduzem tradição se tornou uma lenda. Um clube que, quando menor pareceu, aí mesmo foi que provou ser um gigante".


Marcos Caetano

A Dor















"O Fluminense cai pra Terceira Divisão. Dito assim, em breve oração, soa como um fiapo de conversa. Papo de segunda-feira chuvosa. Pra chatear tricolor, os irônicos dizem que, felizmente, não existe a Quarta Divisão.

Mal se dão conta de que o desterro de um grande clube não é um martírio solitário. Por tabela, atinge todo mundo. O Flamengo nunca seria o mesmo se não tivesse a fustigá-lo o tenaz fervor do Fluminense. Os dois criaram, juntos, um dos maiores mitos do futebol brasileiro que é o Fla-Flu. Nelson Rodrigues dizia que há um parentesco óbvio entre o Fla e o Flu. Seriam os irmãos Karamazov do futebol. Amor e ódio. Eu, por mim, vivi uma juventude atormentada pelo "frisson" dos jogos entre Botafogo e Fluminense. Era o chamado "clássico vovô". A manchete dos jornais exaltava cada batalha entre os dois mais antigos rivais do futebol carioca. O Fluminense era um pesadelo na vida dos outros times. Tinha mais títulos. Tinha mais nobreza. Os outros tinham escudo. O Fluminense tinha brasão.

Por favor, não queiram ver no flagelo do Fluminense apenas um time de futebol agonizando às portas do inferno. Estamos vendo consumir-se nas chamas de um longo martírio muito mais que uma simples equipe. São centenas de troféus. São vitrais de três cores mágicas a filtrar a luz de tantas glórias. O Fluminense é um hino. É um sonho de menino.
Mário Lago diz que há muito tempo o Fluminense saiu de suas cogitações existenciais. Do alto de seus oitenta anos, tem todo o direito de ignorar o presente do clube. O tempo passado enche de glórias seu bravo coração tricolor. O Carlinhos é que não tem. O Carlinhos, um garoto de 14 anos, ainda tem muito que palpitar, coração na mão, por seu clube tantas vezes campeão. O Fluminense precisa de seu amor. Mesmo que, agora, Carlinhos não tenha coragem de aparecer no colégio vestido com a camisa do Fluminense.
Bem que ele podia mudar de colégio. Chegaria lá, cara nova, metido no uniforme do Vasco da Gama, que é o time da moda no Rio. Carlinhos seria até festejado.
Mário Filho dizia que é mais fácil mudar de mulher que mudar de clube. Pois é esse o caso do Carlinhos. Ele não tem duas caras. Nasceu Fluminense e Fluminense há de morrer.
Pois é pensando no Carlinhos que escrevo sobre o drama do clube tricolor.
Se o Fluminense acabasse, de vez, o mundo ficaria sem graça pro Carlinhos.
Ele não pode, nem quer virar Flamengo, nem Botafogo, nem Vasco. O sentimento clubístico é mais forte que o sentimento patriótico. A criança descobre o clube do coração antes de descobrir a própria pátria. Carlinhos aprendeu a cantar o hino do Fluminense muito antes de aprender a cantar o Hino Nacional. Antes de ouvir falar em Brasil, Carlinhos já ouvia o pai repetir, dia e noite, debruçado no berço: Flu-mi-nen-se! Essa é a voz que lateja nas entranhas de Carlinhos.
O Fluminense é hoje uma paixão golpeada no coração de Carlinhos."


Armando Nogueira

O Tempo seca o Amor

O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a ...

Nos últimos 30 dias.