Passagem do Ano


















O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o
[ calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória,
[ doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o
[ clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do
[ acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos
[ séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras
[ espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.



Carlos Drummond de Andrade

O Tempo


Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um individuo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.

Para você, desejo o sonho realizado,
o amor esperado,
a esperança renovada.

Para você, desejo todas as cores desta vida,
todas as alegrias que puder sorrir,
todas as músicas que puder emocionar.

Para você, neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família seja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas...
Mas nada seria suficiente...

Então desejo apenas que você tenha muitos desejos,
desejos grandes.

E que eles possam mover você a cada minuto
ao rumo da sua felicidade.


Carlos Drummond de Andrade

A Dança



















Um gesto de amor,
dois poemas e a saudade
um só coração
teu corpo controlando
as batidas do meu coração!
Toco a sua mão
sinto o teu abraço
e despertamos
do passado
na dança sem canção
eu, você e minha solidão!

Reggina Moon
Recanto das Letras - Código do texto: T5063928

Poeta guardou as asas
Entendeu aquele tempo
Que o véu do silêncio nos cala.
Não forçou sua voz
Em dicotomias
Tampouco impôs aos outros
Os vendavais de sua vaidade.
É o tempo do morro:
existir pelo não-dito dos versos, deitando vida ao papel, sangrado o pulso de sua mal-traçada
e engenhosa sintaxe
no manto da escrita,
Onde os olhos abertos,
mas cegos
não enxergam vida
até que a fúria de sua voz
Esteja enfim renascida



Paula Beatriz Albuquerque

(Sobre uma indisposição repentina de falar poesias em público)
Imagem: Poeta Mauro Mota na Praça do sebo bairro de Santo Antônio CREDITO Carlos Augusto.

A Queimada


Meu nobre perdigueiro! vem comigo.
Vamos a sós, meu corajoso amigo,
Pelos ermos vagar!
Vamos lá dos gerais, que o vento açoita,
Dos verdes capinais n'agreste moita
A perdiz levantar!...

Mas não!... Pousa a cabeça em meus joelhos...
Aqui, meu cão!... Já de listrões vermelhos
O céu se iluminou.
Eis súbito da barra do ocidente,
Doudo, rubro, veloz, incandescente,
O incêndio que acordou!

A floresta rugindo as comas curva...
As asas foscas o gavião recurva,
Espantado a gritar.
O estampido estupendo das queimadas
Se enrola de quebradas em quebradas,
Galopando no ar.

E a chama lavra qual jibóia informe,
Que, no espaço vibrando a cauda enorme,
Ferra os dentes no chão...
Nas rubras roscas estortega as matas...,
Que espadanam o sangue das cascatas
Do roto coração!...

O incêndio — leão ruivo, ensangüentado,
A juba, a crina atira desgrenhado
Aos pampeiros dos céus!...
Travou-se o pugilato... e o cedro tomba...
Queimado..., retorcendo na hecatomba
Os braços para Deus.

A queimada! A queimada é uma fornalha!
A irara — pula; o cascavel — chocalha...
Raiva, espuma o tapir!
...E às vezes sobre o cume de um rochedo
A corça e o tigre — náufragos do medo —
Vão trêmulos se unir!

Então passa-se ali um drama augusto...
N'último ramo do pau-d'arco adusto
O jaguar se abrigou...
Mas rubro é o céu... Recresce o fogo em mares...
E após... tombam as selvas seculares...
E tudo se acabou!...

Castro Alves

Em homenagem à minha esposa que amava recitar esta poesia na sua infância.

Assentada

















Chega a esta casa
sem prazo ou contrato.
Faze de pousada
as salas e quartos.
Os nossos arreios
ninguém os desata
com ódio e receios.



O tempo não sobe
nas suas paredes;
secou como um frio
nos beirais da sede;
calou-se nos mapas,
na plácida aurora,
nos pensos retratos.



Entra nesta casa
que é tua e de todos,
há muito deixada
aberta aos assombros.



Entra nesta casa
tão vasta que é o mundo,
pequena aos enganos,
perdida, encontrada.
Os dias, os anos
são palmos de nada.



Carlos Nejar - Antologia Poética

QUEM PODERÁ ME DEFENDER?


Meu herói preferido
quer salvar os oprimidos
mas mal sabe amarrar
os próprios cadarços

Meu herói preferido
sente medo e é nanico
Luta contra os inimigos
com uma marreta de plástico

Meu herói preferido é atrapalhado
mas se mostra tão humano em sua conduta
Movimentos friamente calculados
ninguém pode imaginar a sua astúcia

É ágil como a tartaruga
Forte com um rato
Uniforme rubro
Todo colorado

Alguns se aproveitam da sua nobreza
mas aprendi com ele que a força bruta
jamais vai superar a nossa inteligência

De antenas ligadas, polegar destemido
suspeitei desde o princípio
que os bons vão estar vivos
mesmo se o corpo perecer

E quando evocarem aquele grito
vou te ver na TV que eu sempre ligo
e todos vão estar bem protegidos
eu sei quem poderá me defender


Alan Salgueiro


“Isso, isso, isso...!”






















Não me esquecerei do grande menino
Poderia ser brasileiro, mas foi mexicano.
Com a pobreza dos que nascem sem ninhos
A fome, orfandade, o barril e o humano.


Desprovido do que tantos são
Brincando com a doçura da infância
Que não guarda em seu coração
Ruindade de adulto e arrogâncias


Chapolin, Chespirito ou Chavito.
“Tá bom, mas não se irrite”.
Como bola de gude ou pirulito
Não há quem te imite.


“Foi sem querer, querendo!”
Roberto Bolaños, o Eterno Chaves.
Sendo simples diante do que é grave.
Com a poesia de dores amolecendo


O Brasil de tantos seus Madrugas
Sem casas sem empregos
De tantas Florindas, Clotildes e seus Barrigas.
De professores Girafales, e Quicos e Chiquinhas.
Porque nos identificamos tanto?!
Porque apesar dos mesmos episódios?!
Sempre nos encontramos.


“E agora? Quem poderá nos defender!”
Sem heróis ou meninos.
“Ninguém tem paciência comigo!”
Mas guardaremos contigo
“A menos que o coração, que o coração sustente
A juventude, que nunca morrerá!”



Henrique Rodrigues Soares.



Há nos domingos um certo tom de blues
uma sensação crônica de Nada
uma preguiçosa e enovelada tristeza
de pensar profundidades tão fatais
que quando decidimos sair de nós

voltamos com os olhos ainda empoçados
de outros incuráveis domingos
.


Carlos Orfeu

Somos Pretos






















Somos todos pretos
Sem sangue nobre
Somos todos neutros
Somos todos pobres.


Somos todos pretos
Sem salame ou requeijão
Temos apenas café preto
Algumas vezes pão.


Somos todos pretos
Tutu de farinha e feijão
Somos prato feito
Escassez e sequidão.


Somos todos pretos
De planos pretos
De panos pretos
E de tão negros estamos pretos.


Somos todos pretos
Com metas e ideais desfeitos
Uniformizados pés pretos
Sem sobrenome ou respeito.


Somos todos pretos
Que cor cobre meu peito?
Não é a melanina que nos faz preto
Mas tudo isso, e o despeito.



Henrique Rodrigues Soares – Canibais Urbanos

Novembro de 2014.

Ironia


Meus retalhos estão todos intactos,
e como antes da tempestade, inalterados.
Possuo a serenidade das piores tormentas,
que destroem vilas inteiras, ironia...
Penso em ti e sinto-me terna e branda,
livre de desejos e tão fria,
como um poderoso vulcão,
em plena erupção.


Reggina Moon

O apanhador de desperdícios


















Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


Manoel de Barros.
- 19 de dezembro de 1916 / 13 de novembro de 2014 -

BICHO INDOMÁVEL


eu
bicho indomável
entre venenos e sangue

lanço-me nu e verdadeiro
na pele do papel

sujo-me de tinta
miro a palavra sem endereço


Carlos Orfeu

Poema de um enigma só


























a solidão é uma faca cravada com uma rosa
delírio quase impossível de se ver
estrada rumo ao vazio que se preenche de ilusão
que de repente como que por magia
a solidão no vazio é cheia de mentiras que se querem verdades
que se quer vaidade, que se quer amor
ninguém sabe da mentira que o outro cria
da mentira nossa de cada dia

do filme que na cabeça se fia


Luiza Maciel Nogueira

Sem que...






















Nenhum dia se vai
Sem que eu lembre teu nome
Sem que eu te pertença infinitas vezes
Sem que eu me afunde em teu amor.
Cada dia é cheio dessa espera
De que eu abra meus olhos
E te encontre perto de algum céu
Onde eu possa colorir teus lábios
Com beijos feitos de canção
Onde eu possa me prender ao teu corpo
Com laços vermelhos invisíveis de paixão
Sim, meu amor,
Nenhum dia se vai
Sem esse céu que invento,
Sem que eu perceba
Que a única forma de te tocar
É através das poesias
Que ao entardecer te escrevo...


Cáh Morandi 
Imagem da Internet.

O Poema Perfeito

Claude Monet

Se é artista
pintor, poeta,
violonista
solta o pulso
(aquele dos dedos)
e ouve o pulso
(aquele do peito)
e não se preocupe...
afinal, o que é
um trabalho perfeito?



Ellen Rose


Arrumei
as
malas
da
memória
e
a
mandei
embora
para
um
canto.
- Todo
dia
foi
um
ontem
povoado
de
futuro.
Memória
é
tudo.
- Disse
voltando
o
pescoço
por
um
período.
Cada
momento
é
uma
vida
inteira
uma
jornada
é
uma
vida
mesma.
O
universo
rodopia
gira
pelo
salão
da
sincronia.
O
novo
tempo
precisa
chegar,
mas
novas
velhas
lembranças
não
vão
ocupar
o
seu
lugar.
Não
se

de
todo,
Memória.
Fique
por
perto
quero
costurar
em
ti
teus
fragmentos
do
porvir.



Paula Beatriz Albuquerque

Imagem da Internet.

BRILHO FOSCO

























Pôr nos olhos uma venda
não veda minha existência
A mordaça não vai te fazer
desaprender as palavras

Nem os tampões pros ouvidos
evitarão o ruído
em sua cabeça
da minha fala

Tudo que tu lutas
na tua mente
pra virar esquecimento
são as lembranças
mais fortes
daquelas que deixam marcas


Não é como extirpar o tumor
Remédio que cura na hora da dor
Eliminar gorduras localizadas
ou sinal de nascença
tatuagem ou doença que se trata
a raio laser e pomada
que o corpo elimina
que uma droga arrebata


Não há tempo
que destrua o teu futuro
Nem cadernos
que remexam teu passado


Não há como abdicar
do teu legado
somos feito prédios
construídos de histórias
anos e andares e alicerces
de estruturas anteriores


Eu nem vou pedir clamor eterno
Pois não tenho pretensão perpétua
Não quero virar uma estátua
Nem figurar em nome de rua
Nem frase de efeito
escrita à lápide


Não se justifica o delito
Não é entendível o delete
Como se fosse fácil
Disjuntor de lâmpada
Ideia de gênio


Como se o escuro curasse
e apagasse o fogo
Como se não permanecesse
ainda assim
um brilho fosco



Alan Salgueiro

Esse punhado de ossos - Falecimento do Poeta Ivan Junqueira

















Esse punhado de ossos que, na areia,
alveja e estala à luz do sol a pino
moveu-se outrora, esguio e bailarino,
como se move o sangue numa veia.
Moveu-se em vão, talvez, porque o destino
lhe foi hostil e, astuto, em sua teia
bebeu-lhe o vinho e devorou-lhe à ceia
o que havia de raro e de mais fino.
Foram damas tais ossos, foram reis,
e príncipes e bispos e donzelas,
mas de todos a morte apenas fez
a tábua rasa do asco e das mazelas.
E ai, na areia anônima, eles moram.
Ninguém os escuta. Os ossos choram.



Ivan Junqueira nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 3 de novembro de 1934 e aqui realizou seus primeiros estudos, ingressando em seguida nas faculdades de Medicina e de Filosofia da Universidade do Brasil, cujos cursos, porém, não chegou a concluir. Iniciou-se no jornalismo em 1963 como redator da Tribuna da Imprensa, tendo atuado depois no Correio da Manhã, Jornal do Brasil e O Globo, nos quais foi redator e sub-editor até 1987. Assessor de imprensa e depois diretor do Centro de Informações das Nações Unidas no Rio de Janeiro entre 1970 e 1977, tornou-se mais tarde supervisor editorial da Editora Expressão e Cultura e diretor do Núcleo Editorial da UERJ, além de colaborador da Enciclopédia Barsa, Encyclopaedia Britannica, Enciclopédia Deita Larousse, Enciclopédia do Século XAÇ Enciclopédia Mirador Internacional e Dicionário Brasileiro de Política, este último editado pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas. Foi também assessor de Rubem Fonseca na Fundação Rio. Como critico literário e ensaísta, tem colaborado em todos os grandes jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, bem como em publicações especializadas nacionais e estrangeiras, entre elas Colóquio Letras, Revista do Brasil, Senhor, Leitura e Iberomania. Em 1984 foi escolhido como a "Personalidade Intelectual do Ano" pela UBE. Assessor da Fundação Nacional de Artes Cênicas (Fundacen) de 1987 a 1990, no ano seguinte transferiu-se para a Fundação Nacional de Arte (Funarte), onde foi editor da revista Piracema e chefe da Divisão de Texto da Coordenação de Edições, tendo se aposentado do serviço público em 1997. Foi ainda editor adjunto e depois editor executivo da revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional. Conferencista, realizou palestras no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Manaus, São Luis, Brasília, Recife, Porto Alegre, Florianópolis, Petrópolis, Buenos Aires, Santiago do Chile e Lisboa, onde, em 1994, abriu o Projeto Camões, patrocinado pelo Instituto Camões e a Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, ocasião em que ministrou, na Biblioteca Nacional da capital portuguesa, o curso "A rainha arcaica: urna interpretação mítico-metafórica", além de realizar recitais de poesia na Casa de Fernando Pessoa e no Palácio da Fronteira. No ano seguinte voltou a participar do Projeto Camões, tendo proferido conferências em Coimbra, Porto, Vila Real, Lisboa e Ponte de Sor. De 1995 a 1997 tomou parte no Projeto Ponte Poética Rio-São Paulo, de que constavam leituras comentadas de poemas de sua autoria e palestras. Ainda em 1995 recebeu da UFRJ, por unanimidade de votos, o diploma de "notório saber", tendo ali participado também do ciclo de palestras "Os Poetas". É membro titular do Pen Club do Brasil e, em 1994, conquistou o Prêmio José Sarney de poesia inédita. De 1996 a 1997 participou, como poeta e ensaísta, das "Rodas de Leitura", do CCBB, organizando ainda, naquele último ano, com Moacyr Félix e Leonardo Fróes, as "Quintas de Poesia", sob patrocínio da Funarte. Em 1998 foi curador do Programa de Co-Edições da Fundação Biblioteca Nacional, que possibilitou a publicação de 35 títulos de autores das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Ainda em 1998 recebeu a Medalha Cruz e Sousa, da municipalidade de Florianópolis e, no ano seguinte, a Medalha Paul Ciaudel, da UBE. Sua poesia já foi traduzida para o espanhol, alemão, francês, inglês, italiano, dinamarquês, russo e chinês. Em 30 de março de 2000 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras na vaga de João Cabral de Melo Neto (cadeira nº 37).

Obras publicadas:

- Os mortos (poesia, 1964), menção honrosa do Concurso Jorge de Lima

- Quatro quartetos, de T. 5. Eliot (tradução, 1967)

- Três meditações na corda lírica (poesia, 1977)

- A Rainha Arcaica (poesia, 1980), Prêmio Nacional de Poesia do Instituto Nacional do Livro (1981)

- T. S. Eliot. Poesia (tradução, introdução e notas, 1981)

- Testamento de Pasárgada (antologia critica da poesia de Manuel Bandeira, 1981)

- Dias idos e vividos (antologia critica da prosa de não-ficção de José Lins do Rego, 1981)

- Cinco movimentos (poesia, 1982), musicados por Denise Emmer no CD Cinco movimentos & um soneto (1997)

- Como a água que corre, de Marguerite Yourcenar (tradução, 1982)

- À sombra de Orfeu (ensaios, 1984), Prêmio Assis Chateaubriand, da Academia Brasileira de Letras (1985);

- Prólogos. Com um prólogo dos prólogos, de Jorge Luis Borges (tradução, 1985)

- As flores do mal, de Charles Baudelaire (tradução, introdução e notas, 1985)

- O grifo (poesia, 1987; tradução dinamarquesa, Griffen, 1994), menção honrosa do Prêmio Jabuti (1988)

- O encantador de serpentes (ensaios, 1987), Prêmio Nacional de Ensaísmo do Instituto Nacional do Livro (1998)

- Albertina desaparecida, de Marcel Proust (tradução, 1998)

- Ensaios, de T. S. Eliot (tradução, 1988), menção honrosa do Prêmio Jabuti (1989)

- De poesia e poetas, de T. S. Eliot (tradução, 1991)

- Poemas reunidos 1934-1953, de Dylan Thomas (tradução, introdução e notas, 1991), Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (1991) e Prêmio da Biblioteca Nacional (1992)

- Prosa dispersa (ensaios, 1991)

- Doze tipos, de G. K. Chesterton (tradução, 1993)

- O signo e a sibila (ensaios. 1993)

- A sagração dos ossos (poesia, 1994), Prêmio Jabuti (1995), da Câmara Brasileira do Livro, e Prêmio Luisa Cláudio de Sousa, do Pen Club do Brasil (1995)

- Os melhores poemas de Dante Milano (antologia, introdução e biografia, 1998)

- O fio de Dédalo (ensaios, 1998), e

- Poemas reunidos (1999).

Suas traduções dos poemas de Baudelaire e Leopardi constam das edições das obras reunidas desses dois autores, publicadas, respectivamente, em 1995 e 1996 pela Nova Aguilar.

Traduziu ainda, para o teatro:
- A tempestade, de William Shakespeare (com Tite de Lemos), e
- Os justos, de Albert Camus (com Yan Michalski).

Tem no prelo Baudelaire, Eliot, Dylan Thomas: três visões da modernidade (ensaios). (fonte: Academia Brasileira de Letras).



O poema acima, publicado em "Poemas Reunidos", Record - Rio de Janeiro, 1999, foi extraído do livro "Os cem melhores poemas brasileiros do século", Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 317, seleção de Ítalo Moriconi.


Falecido morreu nesta quinta-feira (3) aos 79 anos no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele estava internado há um mês e teve insuficiência respiratória. O corpo do acadêmico será sepultado no no Cemitério São João Batista às 15h.


Noticia:http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/07/morre-o-poeta-e-academico-ivan-junqueira-aos-79-anos-no-rio.html


Poesia e pequena biografia:http://www.releituras.com/ivanjunqueira_ossos.asp


Fotografia:http://www.senado.gov.br/noticias/tv/videos/cod_midia_237867.flv

Coerência Assimétrica.





















Coletivo
composto
de seres
individuais.
O ser humano,
em si mesmo,
é uma Ilha.
Sujeito que a tudo conhece
e não é conhecido por ninguém.
Divindade pulsante.
Ser humano não é uno.
Luta com seus múltiplos
por uma unidade fictícia:
bem/mal
alto/baixo
gordo/magro
quente/frio
imortal/perecível.
E na própria individualidade
torna-se coletivo e caótico:
ama e odeia e gosta e rechaça
e chora e ri
Tudo num único ato.
Por ser híbrido, o caos humano é coerente.
Mantém em equilíbrio os muitos seres existentes
dentro de um só corpo.
Esse corpo confuso
Habitados por múltiplas moléculas
exteriorizam fenótipos: templo da aparência.
A aparência atrai ou repele.
Na sociedade dos néscios,
confecciona esteriótipos.
Julga-se por ela, indiscriminadamente.
Nada vão te perguntar
Mas te acolhem ou tolhem
pela espessura dos lábios,
pelo bíceps malhado,
pelo glúteo empinado
pela tonalidade da cútis
ou nada disso.
Mas, independentemente se somos feios,
bonitos, gordos, magros, malhados, morenos,
loiros ou pançudos
O fator determinante é o caráter.
Estética não determina caráter.
A beleza advinda da ética não é perceptível
aos olhos consumistas e materialistas,
pois a tudo e todos tratam como um prato de carne,
uma peça de vestuário a ser trocada
ou como um novo aparelho eletrônico a ser adquirido.
Olhos materialistas só sabem ler
o que está escrito nas formas moldadas e estabelecidas
para todo o restante; para todo o entorno e arredores
são analfabetos.
Dizem que há poetas materialistas.
Mas aqui no meu isolamento
ainda creio que poetas são amigos do sol,
conversam com vento,
bebem chuva
e enxergam além dos moldes das linhas;
alcançam entrelinhas.
Aqui no meu isolamento
poeta é aquele ser que transcende a matéria
que escuta o não dito
e fala idiomas que ainda não existem.


Paula Beatriz Albuquerque

Amor Enluarado




















Aquela Lua murmurante
De prata cristalina abanar
Tem o dom de embriagar
Com sua luz extasiante...


Vezes e vezes alvejante
Por este Luar passei
Em sua beleza enamorei
Sendo apenas caminhante.


A mourejar melodiosa seresta
Vem graciosa beijando a terra
Sorvendo fragrâncias dela
Vai espargindo pelas florestas


Na imensidão do seu encanto
Emergem soluços abaluartar
Que se arrastam sem parar
Qual recordações de seu canto.


Debruçam brumas andandeiras
Um acariciar com aluamento
A invadir desejos e sentimentos
Revelando apagas esteiras!


Lá pelo infinito, muito além
Desliza o Luar a se enamorar
Respingando doce cochichar

Levando meu Amor também!


Efigênia Coutinho

Para Ti


























Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo


Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre


Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida



Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Imagem da Internet.

Eusébio por Manuel Alegre





















Havia nele a máxima tensão
Como um clássico ordenava a própria força
Sabia a contenção e era explosão
Não era só instinto era ciência
Magia e teoria já só prática
Havia nele a arte e a inteligência
Do puro e sua matemática
Buscava o golo mais que golo – só palavra
Abstracção ponto no espaço teorema
Despido do supérfluo rematava

E então não era golo – era poema.


Manuel Alegre
Imagem da Internet.

Homenagem ao Pantera Negra, como era conhecido o craque Eusébio.
Eusébio da Silva Ferreira, nasceu em Lourenço Marques - Moçambique, ainda Portugal nesta época, no dia 25-01-1942, e faleceu 05-01-2014 em Lisboa - Portugal.
Maior Jogador da Seleção Portuguesa de Futebol com destaque para Copa do Mundo de 1966, com o terceiro lugar.  Também vestiu por anos conquistando vários títulos com a camisa encarnada do Benfica de Lisboa, sendo 1961 e 1962  Campeão dos Campeões da Europa.

Repetição







































No abrir de cada dia
Está presente a sombra de todas as noite.
Mãos em desespero esvoaçam
Tentando atingir a fímbria da vida.
Lâmpadas reabastecidas
Na esperança da vinda do Grande Esperado.
A carne é devolvida ao pó
Enquanto a memória da nossa infância
Se apaga aos poucos na memória da infância dos nossos filhos
Diluída na dos nossos netos.
Memórias sem dono
Substituídas pelos tentáculos do ventre materno
Para a lenta e angustiante viagem para o exílio.



Adalgisa Nery
In Erosão (1973)
Imagem da Internet.



INTACTO



















Vai ficar intacto
o sentimento
as fotos
a decoração do quarto
como se você ainda
estivesse dentro


Vai ficar intacto
teu prato
e o peito atingido
sangrando
como se não causasse
nenhum impacto


Vai ficar intacto
o guarda-roupa
e a bagunça
time que não muda
como se estivesse
há tempos invicto


Vai ficar intacto
e estou convicto
até que você sane
suas suspeitas e certezas
até que se feche o inquérito
e você me dê o veredicto


Até que analise o convívio
mesmo não havendo o contato
é só com você que eu me conecto
mesmo que eu não pareça digno


Até que você ache o sentido
mesmo que não pareça verídico
mesmo que eu não esteja apto
repito: pra mim vai ficar intacto



Alan Salgueiro
Tela Christina Nguyen  - Site Open ArtGroup

Diante de todos os segredos

















diante de todos os segredos
a poesia permanece
inclusive no silêncio
e isso é o que nos salva


o movimento da vida
a dança do repente de um futuro
presente em cada pedaço de vida
em cada ínfimo
e é isso que nos salva
apesar de tudo


o que passa, passou feito pássaro,
como dizia o poeta
que venha o futuro num repente
num abraço do que há de vir
na entrega do presente


saiba disso
e eu sei que você sabe
mas é importante lembrar
que a vida tem dessas coisas
de nos fazer esquecer de viver


Luiza Maciel Nogueira


Aqui está-se sossegado















Aqui está-se sossegado,
Longe do mundo e da vida,
Cheio de não ter passado,
Até o futuro se olvida.
Aqui está-se sossegado.


Tinha os gestos inocentes,
Seus olhos riam no fundo.
Mas invisíveis serpentes
Faziam-a ser do mundo.
Tinha os gestos inocentes.


Aqui tudo é paz e mar.
Que longe a vista se perde
Na solidão a tornar
Em sombra o azul que é verde!
Aqui tudo é paz e mar.


Sim, poderia ter sido...
Mas vontade nem razão
O mundo têm conduzido
A prazer ou conclusão.
Sim, poderia ter sido...


Agora não esqueço e sonho.
Fecho os olhos, oiço o mar
E de ouvi-lo bem, suponho
Que veio azul a esverdear.
Agora não esqueço e sonho.


Não foi propósito, não.
Os seus gestos inocentes
Tocavam no coração
Como invisíveis serpentes.
Não foi propósito, não.


Durmo, desperto e sozinho.
Que tem sido a minha vida?
Velas de inútil moinho —
Um movimento sem lida...
Durmo, desperto e sozinho.


Nada explica nem consola.
Tudo está certo depois.
Mas a dor que nos desola,
A mágoa de um não ser dois
Nada explica nem consola.


Fernando Pessoa
Fonte: http://www.secrel.com.br/jpoesia/fpesso.html
Imagem: tela de Bernard Louedin - site Open ArtGroup

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