diante da nudez do horizonte
estranha-se

desdobra-se no reflexo
disforme do mundo
em repouso na angústia

diante da nudez do horizonte
chega-se ao subterrâneo de si

olhando-se
mais
a fundo

reencontra o nada
de ser


Carlos Orfeu

Poema


A minha vida é o mar o abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada


Sophia de Mello Breyner Andresen

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