Inseparável do medo é a queda,
Medo é mesmo do vazio o sentimento.
Quem das alturas nos atira a pedra,
Rejeitando ela o jugo do momento?

E tu, com teus passos hirtos de monge,
Mediste em tempos a nave empedrada:
Calhaus e sonhos rudes – não está longe
A sede de morte, a grandeza ansiada!

Maldito sejas, gótico abrigo,
Quem entra é pelo tecto enganado,
Na lareira não arde o lenho amigo.

Vivendo eternamente poucos haja,
Mas, viver ao momento subjugado –
Que terrível sorte e que frágil casa!


1912



Паденье - неизменный спутник страха,
И самый страх есть чувство пустоты.
Кто камни нам бросает с высоты,
И камень отрицает иго праха?

И деревянной поступью монаха
Мощеный двор когда-то мерил ты:
Булыжники и грубые мечты -
В них жажда смерти и тоска размаха!

Так проклят будь готический приют,
Где потолком входящий обморочен
И в очаге веселых дров не жгут.

Немногие для вечности живут,
Но если ты мгновенным озабочен -
Твой жребий страшен и твой дом непрочен!


1912

Ossip Mandelstam, Guarda minha fala para sempre [seleção, introdução, comentários e notas Nina Guerra, tradução Filipe Guerra], Lisboa, Assírio & Alvim, 1996, p. 120-121.

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