Ah, O Primeiro Clássico
"Eu estou imaginando o campo, as duas torcidas e os times. Mas para visualizar a partida temos de inseri-la no velho Rio, o Rio machadiano, o Rio que era uma abundante paisagem de gordas.
Na "belle époque", as mulheres iam para o futebol como se fossem para uma recepção no Itamarati. E elas demaiavam, vejam vocês, ainda tinham ataques. De vezem quando, faço a mim mesmo esta pergunta:- "Há quanto tempo não vejo uma mulher com ataque? "Elas matam e se matam, elas se atiram do sétimo andar, elas devoram um tubo de comprimidos. Mas não têm ataques, nem desmaiam. Ah, naquele tempo era lindo "ser histérica". E no futebol, quando entrava um gol, as mulheres desfaleciam, pareciam morrer em estertores. Os homens achavam sublime.
O primeiro Fla-Flu não era Fla-Flu. Só muito mais tarde é que Mário Filho inventou e promoveu a abreviação. O Flamengo fez tudo, tudo para ganhar este primeiro jogo. Outro dia, conversei com um velho torcedor, mais velho que o século. E ele, falando fino e baixinho (como uma criança que baixa num tenda espírita), contou o que foi o nascimento do maior clássico do futebol brasileiro. O Flamengo era o time campeão do Fluminense, sem Oswaldo Gomes.
Parece que na partida o futebol era um detalhe irrelevante ou mesmo nulo. Os dois times davam a sensação de que jogavam de navalha na liga. E, no entanto, houve um cínico e deslavado milagre: - ninguém saiu de maca, ninguém saiu de rabecão. Mas nunca se vira, em campo de futebol, ferocidade tamanha. E o Fluminense venceu.
Vejam como, histórica e psicologicamente, esse primeiro resultado seria decisivo. Se o FIamengo tivesse ganho, a rivalidade morreria, ali, de estalo. Mas a vitória tricolor gravou-se na carne e na alma flamengas.
E sempre que os dois se encontram, é como se o fizessem pela primeira vez".
Nelson Rodrigues
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