XLVIII





















Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade.


E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.


Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.


Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?


Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvores, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.


Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.


Passo e fico, como o Universo.


Alberto Caeiro

2 comentários:

Maria Madalena Schuck disse...

Estimado amigo, seu blogger cada vez mais lindo!
Amo essa poesia do Fernando, divina mesmo, e as fotos do mais que lindo amigo (em espirito e matéria) Antônio Carlos, que maravilha!
Mil parabéns a você!
Sempre que posso venho te visitar com muito carinho.
Um grande abraço de coração.

Sonia Parmigiano disse...

Henrique,

Belíssima postagem, Fernando sempre nos encanta e sua escolha foi perfeita!
Sempre lembrando de admiro demais os poemas que voce mesmo escreve,

Parabéns!!

Uma boa semana, repleta de paz...

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