Confissão de Pai para Filho





















Filho, abro a janela para o amanhã
e não há nisso um vestígio de esperança.


Aceito a imposição de um novo dia
enquanto aguardo a hora do pão fresco.


Vivo intensamente o nada de em seguida
como um centauro ultrapassando o mito.


O que faço não marca o acontecimento,
senão o fechamento nulíparolunar
das portas dos dias das horas do tempo.


Sento-me à mesa e repito com a fome
o golpe traiçoeiro da abastança.


Filho, abro o jornal e devoro uma notícia
que custou um sangue anônimo qualquer.


Eu não quero ser cúmplice do mundo.
Vou ao trabalho ou não vou,
ponho a gravata ou não ponho.


Afinal eu sou o que não muda o curso
de nada segundo a minha preferência.


Qualquer alternativa é uma imposição
do agora ilhado no tempo.


O passado foi e o futuro é na cozinha
onde a carne está sendo retalhada...


Enquanto isso, $uborno com produtos
importados a viciada alfândega do coração,
malgrado os impostos escorchantes
devidos à amável consciência...


Afonso Estebanez

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