De todas as obras

















De todas as obras humanas, as que mais amo 
São as que foram usadas.
Os recipientes de cobre com as bordas achatadas, e com mossas
Os garfos e facas cujos cabos de madeira
Foram gastos por muitas mãos; tais formas
São para mim as mais nobres. Assim também as lajes
Polidas por muitos pés, e entre as quais
Crescem tufos de grana: estas
São obras felizes.
Admitidas no hábito de muitos
Com frequência mudadas, aperfeiçoam seu formato e tornam-se valiosas
Porque delas tanto se valeram.
Mesmo as esculturas quebradas
Com suas mãos decepadas, me são queridas. Também elas
São vivas para mim. Deixaram-nas cair, mas foram carregadas.
Embora acidentadas, jamais estiveram altas demais.
As construções quase em ruína
Têm de novo a aparência de incompletas
Planejadas generosamente: suas belas proporções
Já podem ser adivinhadas, ainda necessitam porém
De nossa compreensão. Por outro lado
Elas já serviram, sim, já foram superadas. Tudo isso
Me contenta.


Von allen Werken

Von allen Werken, die liebsten
Sind mir die gebrauchten.
Die Kupfergefäße mit den Beulen und den abgeplatteten Rändern
Die Messer und Gabeln, deren Holzgriffe
Abgegriffen sind von vielen Händen: solche Formen
Schienen mir die edelsten. So auch die Steinfliesen um alte Häuser
Welche niedergetreten sind von vielen Füßen, abgeschliffen
Und zwischen denen Grasbüschel wachsen, das
Sind glückliche Werke.
Eingegangen in den Gebrauch der vielen
Oftmals verändert, verbessern sie ihre Gestalt und werden Köstlich
Weil oftmals gekostet.
Selbst die Bruchstücke von Plastiken
Mit ihren abgehauenen Händen liebe ich. Auch sie
Lebten mir. Wenn auch fallen gelassen, wurden sie doch getragen.
Wenn auch überrannt, standen sie doch nicht zu hoch.
Die halbzerfallenen Bauwerke
Haben wieder das Aussehen von noch nicht vollendeten
Groß geplanten: ihre schönen Maße
Sind schon zu ahnen; sie bedürfen aber
Noch unseres Verständnisses. Anrerseits
Haben sie schon gedient, ja, sind schon überwunden. Dies alles
Beglückt mich.

Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.
Poemas 1913-1956, Bertolt Brecht, [seleção e tradução de Paulo César de Souza], Sâo Paulo, Editora 34, 2000, p. 84

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