Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O Tempo seca o Amor
O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a ...

Nos últimos 30 dias.
-
Navegar em liberdade é ir como não se sabe onde o ímpeto quiser. O corpo viaja na cama e o amor toma carona se no cora...
-
Lembranças saudosas, se cuidais De me acabar a vida neste estado, Não vivo com meu mal tão enganado, Que não...
-
E o homem seguiu entre guizos falsos. Trazia no rosto uma sofreguidão de charcos. Era noite e os fantasmas enl...
-
Dentre os mais belos seres que desejamos enaltecer, Jamais venha a rosa da beleza a fenecer, Po...
-
Por enquanto sou pequeno, muita coisa eu não sei. Eu só sei que estou gostando deste mundo onde eu cheguei....
-
Meia noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vêde: Na bruta ardência orgânica da sede, Mor...
-
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médi...
-
Há um menino Há um moleque Morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto balança Ele vem pra me dar a mão ...
-
Tão abstrata é a idéia do teu ser Que me vem de te olhar, que, ao entreter Os meus olhos nos teus, perco-os de vista...
-
À sombra dos imensos coqueirais, Ouço as queixas infindas e os tormentos Do mar que entre gemidos espectrais, Confe...
Nenhum comentário:
Postar um comentário