A AREIA DAS URNAS











Verde-mofo é a casa do esquecimento.
Diante de cada porta flutuante azuleja teu cantor decapitado.
Ele faz rufarem para ti os tambores de musgo e amarga vulva;
com artelho supurado risca na areia tua sobrancelha.
Desenha-a mais comprida do que era, e o vermelho de teus lábios.
Enches aqui as urnas e degustas teu coração.


Em alemão:


DER SAND AUS DEN URNEN
Schimmelgrün ist das Haus des Vergessens.
Vor jedem der wehenden Tore blaut dein enthaupteter Spielmann.
Er schlägt dir die Trommel aus Moos und bitterem Schamhaar;
mit schwärender Zehe malt er im Sand deine Braue.
Länger zeichnet er sie als sie war, und das Rot deiner Lippe.
Du fühlst hier die Urnen und speisest dein Herz.

Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

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