A língua é matéria vibrátil





















É triste explicar um poema. É inútil também.
Um poema não se explica. É como um soco.
E, se for perfeito, te alimenta para toda a vida.
Um soco certamente te acorda e, se for em
cheio, faz cair tua máscara, essa frívola,
repugnante, empolada máscara que tentamos
manter para atrair ou assustar. Se pelo menos
um amante da poesia foi atingido e levantou de
cara limpa depois de ler minhas esbraseadas
evidências líricas, escreva apenas isso: fui
atingido. E aí sim vou beber, porque há de ser
festa aquilo que na Terra me pareceu exílio:
o ofício de poeta.



Hilda Hilst
Em: “Cascos & Carícias & Outras Crônicas” (1998)
https://blogdocastorp.blogspot.com/
 


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