Canto II
















Tudo era descoberta
no abrir dessas palavras.

E a viagem seguia
construindo-se andaime
de leve arquitetura
nas ogivas das bocas
dos dois que se encantavam
nesse jogo onomástico.

E a mulher que era voz
ainda adormecida
balbuciou nomeando
esse homem fricativo:
– amado meu amado.

Então ele se soube
de pedra amolecida
mas senhor da tarefa.

E olhou-a como nunca
olhara em sua volta:
a íris revelando
o seu contentamento
no semblante de calma
na viva descoberta
do fogo prometido.

Havia agora como
repartir as centelhas
dos olhos revirados.

Apenas construir
um solo de pegadas
no sopro de ocarina
de música tão breve,
que o passo é de nuvens.

Saber-se passageiro
ao lado da parceira
no destino de andar
de ver para fincar
as flechas andarilhas
as palavras certeiras
no chão do transitório.

Então para alargar
o chão dessa morada
e para contentar
os impulsos dos pés
a vontade liberta
de ter aonde ir
no vão dos sonhos soltos
espanando a rotina
dessas favas do tédio
só havia a distância
desse mar dos mistérios
O mar das descobertas:

Ó Thálassa, ó Thálassa!

O mar da poesia
Esse mar do impossível.


Aníbal Beça

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